Por: Adelino Afonso Barros*
Jamais o mundo será o mesmo! Isto já é sabido. A palavra de ordem é a resiliência. Os desafios do presente e futuro exigem resiliência para a preservação do equilíbrio das sociedades humanas e desenvolvimento global.
Com o covid-19 começou uma era nova em que para cada individualidade há necessidade de uma nova visão, postura e atitude para harmonizar a própria existência às necessidades do “novo normal” no mundo em renovação.
Nos dias presentes deparamos com situações de elevadas exigências em todas as áreas da vida e atividades humana em consequências da crise que assola o planeta dando indicativos claros de que à humanidade é cada vez mais solicitada a capacidade de gestão situacional e resiliência.
Dados preocupantes da OMS
Segundo dados estatísticos da OMS (Organização Mundial da Saúde) cerca de aproximadamente 400 milhões de pessoas sofrem de depressão em todo o mundo, 264 milhões estão sofrendo de ansiedade e a taxa de suicídio ronda os 800 mil indivíduos anualmente, o que assustadoramente representa uma vítima por cada 40 segundos.
Dados preocupantes que acarretam medidas urgentes e eficazes para fazer face à situação. Os dados referentes ao nosso país encontra-se incluídos nos disponibilizados pela OMS.
O mundo afora encontra-se trabalhando a passos largos e firmemente para uma “nova configuração educacional” e capacitação dos recursos humanos para acompanhar a presente era resiliente através de processos de desenvolvimento de habilidades cognitivas e práticas que estimulam a formação do homem inteligente e resiliente que significa ter o equilíbrio dos conhecimentos e as habilidades desenvolvidas aplicadas na vida prática, tornando o humano capaz de acompanhar com consciência e segurança o desenrolar do presente e futuro da humanidade.
O homem resiliente
A resiliência “é a capacidade do indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas – choque, estresse, algum tipo de evento traumático, entre outros. Sem entrar em surto psicológico, emocional ou físico, por encontrar soluções estratégicas para enfrentar e superar as adversidades.”
Então o homem resiliente é aquele que possui a capacidade de resistir e manter o equilíbrio em situações adversas e de dificuldades mantendo a capacidade de resposta positiva e eficaz.
No presente, esforços importantes estão sendo levados a cabo por parte dos governos em todo o mundo para responder aos actuais problemas provenientes da presente crise sanitária e económica mundial, as autoridades “trabalham conjuntamente” para devolver a harmonia e o equilíbrio à humanidade com estratégias e reforços de investimentos tanto a nível de recursos materiais como ao nível de capacitação intelectual que oferecem melhores condições de vida aos seus cidadãos, com ferramentas poderosas para criar oportunidades, ambientes propícios e uma classe humana resiliente.
Trabalhar a mente e a consciência do homem
Como para isso não basta estratégias e investimentos a nível das produções e condições materiais e exteriores, se trabalha sobretudo o interior, a mente e consciência do homem através de ferramentas indispensáveis ao conhecimento e desenvolvimento de qualquer ser humano.
Uma das ferramentas que acabam por auxiliar e ou complementar diretamente o sistema educacional, a psicologia, a psiquiatria, o empresariado e todas as áreas de forma eficaz a qual me refiro que reconhecidamente é considerada de capital importância para formação do homem resiliente e pronto a adaptar ao “novo mundo” é a inteligência emocional e através da “nova educação” facilitadas pelos mentores em inteligência emocional, que assim continuarão a colaborar na “construção do homem do novo mundo”.
Pois o homem “é a causa e efeito do desenvolvimento”, isto é, o homem cria, desenvolve e ao mesmo tempo é produto da sua criação e desenvolvimento, desse modo para que se consiga uma humanidade e mundo equilibrado e ou harmonioso há que se aprimorar o produto humano. Por este motivo trabalhar as emoções é tornar o homem melhor e resiliente.
A inteligência emocional
A palavra emoção originou do latim “emovere” que significa exteriorizar movimento ou seja aquilo que nos move. A ciência afirma que todo ser humano é movido pelas emoções e que estão presentes em todas as situações e são responsáveis pelos vínculos mais profundos que registamos e gravamos em nosso cérebro emocional.
Segundo o considerado pai da inteligência emocional moderna Daniel Goleman, a inteligência emocional é a “capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos”.
Segundo a ciência, as emoções ocupam grande parte do nosso cérebro, exercendo grande influência sobre nosso pensamento, decisão e comportamento.
Os maiores especialistas em análise comportamental já alertam que o mais importante nos dias de hoje não é o quanto se sabe, mas como usamos todas as informações que temos para gerar resultados positivos, ou seja aqui refere-se ao hard skills ou conhecimentos técnicos possuídos e soft skills que são as habilidades pessoais referentes a gestão dos conhecimentos, estas são de nível comportamental.
Hoje a maior exigência reside nas soft skills e a mais exigida é sem dúvida a inteligência emocional. Pois a gestão das emoções têm influências e vantagens directas na saúde, aprendizagem, produtividade, na gestão de conflitos, no relacionamento connosco mesmo, com o mundo e em todas as áreas da vida humana.
Sendo assim conhecer a inteligência emocional e desenvolver esta habilidade constitui necessidade indispensável, um ganho fundamental e sabedoria para conseguir lidar com os eventos e circunstâncias da vida de forma consciente e equilibrada seja em quais situações forem.
Assim, desenvolver esse conhecimento ou habilidade é autoconhecer e alcançar elevação no nível de ser, o mesmo que acrescentar benefícios ao que já somos e consequentemente elevará também qualquer sociedade humana.
A inteligência emocional em Cabo Verde
Como em todo o mundo, também em Cabo Verde fala-se muito no termo resiliência e sua importância fundamental no presente e futuro do nosso país tendo em conta a situação que também aqui atravessamos e a previsão da continuidade de tempos difíceis, com os efeitos da pandemia, que têm vindo a prejudicar várias áreas e actividades com direta afetação no rendimento e consequente agravamento na saúde pública com oscilações de casos do covid, as doenças de foro mentais como depressão, ansiedade e sindrome do pânico a aumentarem, no desemprego com uma taxa de 14,5% em 2020, um aumento de 3,2 pontos percentuais em relação ao ano de 2019, conforme divulgou o Instituto Nacional de Estatísticas (INE).
A criminalidade apesar de ter baixado 7,2% em 2020 segundo dados da Polícia Nacional (PN), constitui sempre uma preocupação importante, até pelas ocorrências graves que têm sido registados ultimamente.
A equipa governamental trabalha para criar e reforçar condições que garantam a sustentabilidade e desenvolvimento sócio-económico, para gerar recursos e oportunidades, com apostas fortes nos sectores do empreendedorismo, formação e capacitação, com vista o crescimento do país com consequências na melhoria das condições e qualidade de vida dos cidadãos, mas, ainda não se começou a abordar e trabalhar com afinco a inteligência emocional, considerada por especialistas a mais importante das soft skills para que se comece efectivamente a operar transformações profundas e precisas nos nossos indivíduos e na sociedade.
Pois, se queremos ter uma sociedade equilibrada ou um país desenvolvido obrigatoriamente temos que trabalhar no aprimoramento do homem. É importante ter a consciência de que o nível do país que projetamos ou pretendemos dependerá exclusivamente do nível do homem que construímos.
A inteligência emocional é sem dúvida a mais importante das soft skills na medida em que apartir do desenvolvimento desta habilidade tanto as hard skills como todas as soft skills ganham melhoramentos.
Portanto, os ganhos com a inteligência emocional são evidentes a todos os níveis e estamos no momento crucial para sua introdução no “sistema educacional” caboverdiano, investindo fortemente nesta ferramenta de valor universal se realmente as autoridades governamentais, os atores sociais e empresariais têm como prioridade o desenvolvimento e como objetivo imediato impactar na mitigação dos efeitos das crises e prontificar para desafios vindouros é fundamental e emergente trabalhar a inteligência emocional.
É tempo de transformar vidas e levarmos Cabo Verde a novos rumos construindo uma sociedade segura, equilibrada e mais produtiva para que possamos todos alcançar a “prometida” felicidade que “é a maior busca do ser humano”.
Urge que todas as instituições governamentais, não governamentais, as empresas, educadores, comunidades, pessoas individuais, o país em geral comecem a conhecer e desenvolver a inteligência emocional e experimentarem suas vantagens nas nossas vidas para um Cabo Verde e um mundo melhor!
Ter inteligência emocional é elevar a vida na prática com o equilíbrio e a felicidade!
* Mentor em Inteligência Emocional.
Praia, 19 de junho de 2021.
(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 722, de 01 de Junho de 2021)