O escritor e antropólogo angolano, António Tomás, lança, a partir de Johanesburgo, África do Sul, a versão inglesa de “Amílcar Cabral, o Fazedor de Utopias”. Segundo o autor, a obra com o título “The Life of a Reluctant Nationalist”, é uma “adaptação” da sua biografia desse líder guineense-cabo-verdiano, hoje uma referência também para o mundo anglófono.
Considerada uma das biografias de maior fôlego sobre Amílcar Cabral, publicada em 2007, em Portugal e depois em Cabo Verde, “O Fazedor de Utopias” ganha a partir de agora uma versão em inglês, com o título “The Life of a Reluctant Nationalist”, nova organização e texto actualizado.
Adaptação para público anglófono
António Tomás, autor da obra, ressalva, contudo, ao A NAÇÃO, que se trata de “uma adaptação para o público anglófono” e “não é uma versão aumentada ou melhorada”, embora haja mais notas de rodapé, entre outros aspectos editoriais e académicos, “exatamente”, para facilitar a leitura do público de língua inglesa.
A viver há vários anos na África do Sul, mais concretamente em Johanesburgo, Tomés que é professor na Graduate School of Architecture, quer com esta nova versão de “O fazedor de utopias” aproximar o pensamento de Cabral ao mundo anglófono.
“Cabral é um pensador muito importante e muito pouco acessível em inglês. Há um debate sobre ele no mundo lusófono que não existe no mundo anglófono, razão pela qual resolvi fazer uma versão inglesa do livro”, refere o autor a este jornal, a partir de Johanesburgo.
Retrato crítico de Amílcar Cabral
Esta biografia de Amílcar Cabral é um retrato crítico desse herói africano da luta contra o colonialismo português, assassinado em Janeiro de 1973, em Conakry, na medida em que levanta questões e procura perceber a prática dessa figura histórica.
Além do pensamento teórico em si, Tomás aponta também no seu trabalho algumas contradições identificadas na vida do autor da “Arma da teoria”.
“The Life of a Reluctant Nationalist” detalha a luta de Amílcar Cabral pela independência da Guiné e Cabo Verde, luta essa sitiada e marcada por conflitos vários, que o PAIGC, enquanto partido binacional, procurou lutar para os poder superar, acabando Cabral vítima, no fundo, desses conflitos e contradições.
Além de contar a vida do seu biografado, António Tomás reflecte criticamente sobre as formas existentes de pensar e escrever sobre a independência da África lusófona.
“Amílcar Cabral é um pensador universal”
“Amílcar Cabral sempre foi muito prático, mas agarrado à teoria. É um pensador universal.
A sua obra é importante para todo o continente africano, porque Cabral estava preocupado com a questão da colonização, da exploração e do domínio europeu sobre vários países africanos”, destaca.
Para o escritor e antropólogo angolano, pelo contrário, Amílcar Cabral tocou em questões que ainda hoje são importantes, uma das quais a relação de Cabo Verde com o resto de África, identidade, nativismo na Guiné, entre outros, tanto que, actualmente,
Tomás diz continuar a estudar teoricamente Amílcar Cabral para analisar os desafios actuais.
Formado em antropologia, com passagens pelo jornalismo em Angola e Portugal, António Tomás acabou por se fixar há já algum tempo na África do Sul.
A versão de “O fazedor de utopias”, agora para a língua inglesa, vem, como diz, permitir que pessoas que não têm acesso à língua portuguesa possam ler o livro e, com isso, conhecer aquele que é tido como um dos mais importantes pensadores da libertação africana, ao lado de Nelson Mandela (África do Sul), Kwame N’Krumah (Gana), entre outros.
“The Life of a Reluctant Nationalist” é publicado pela C Hurst & CO Publishers Ltd, uma editora independente com sede em Londres, especializada em assuntos globais, história europeia, guerras e conflitos, estudos africanos e relações internacionais.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 722, de 01 de Julho de 2021