Santo Antão tem acompanhado o desenvolvimento de Cabo Verde, não obstante alguns desafios como fazem crer os entrevistados do A NAÇÃO neste dia em que se assinalam os 46 anos da independência nacional.
Passados 46 anos da independência nacional, ainda há desafios e aspetos a melhorar em todo o país. No caso de Santo Antão, o sindicalista Carlos Bartolomeu entende que, em termos de direitos trabalhistas, ainda há que se melhorar muito.
“Há trabalhadores em Santo Antão que estão desprotegidos. Há leis, mas na prática não funcionam. Este é o problema, nós tentamos defender os direitos dos trabalhadores, mas as leis, de alguma forma, não são respeitadas na prática”, indica como exemplo.
O presidente do Sindicato Livre dos Trabalhadores de Santo Antão fala ainda em precariedade laboral e salarial e despedimentos ilegais que considera, “inadmissíveis” em 46 anos de independência nacional. “A justiça, que deveria defender o trabalhador, não o faz, o sistema é muito burocrático e não célere como devia ser”, pontua.
“Progressos relevantes”
Por sua vez, e com uma visão mais otimista, o presidente da Associação dos Municípios de Santo Antão e também edil do Porto Novo, Aníbal Fonseca, destaca “progressos relevantes” no desenvolvimento da ilha em várias áreas com destaque para a educação e saúde.
Santo Antão, segundo esse autarca, é atualmente uma ilha “completamente diferente”, com comunidades desencravadas, acesso rodoviário, eletricidade, acesso à água, energia renovável, habitação e rendimentos.
Contudo, destaca desafios a enfrentar. Um dos quais, talvez o mais importante, como deixa transparecer, o levantamento do embargo dos produtos agrícolas da ilha, tendo em conta os seus custos para a agricultura local e, por conseguinte, desenvolvimento para uma ilha agrícola como Santo Antão.
“Há 40 anos estamos sob quarentena agrícola em Santo Antão e isso contribuiu para empobrecer a agricultura da ilha e já estamos em tempo de resolver essa situação”, defende Fonseca.
A construção do aeroporto de Santo Antão é para este santo-antonense um outro desafio que, como diz, irá dinamizar a economia da ilha. “Não é um luxo, outras ilhas têm porque tiveram necessidade e há exemplos paradigmáticos de desenvolvimento quando chegou o aeroporto, caso da Boa Vista, por que não Santo Antão? Pensamos que também temos esse direito ao desenvolvimento”, justifica o também presidente da Câmara Municipal de Porto Novo.
A ilha ainda enfrenta o problema de infra estruturação económica e de atividades económicas, bem como comunidades por desencravar, pelo que Aníbal Fonseca acredita que Santo Antão precisa de alavancas para afirmar-se no contexto económico nacional, o que passa pelo aeroporto internacional, segunda fase do porto e investimentos no turismo.
A caminho da pesca industrial
No setor das pescas, Santo Antão possui a terceira maior frota semi-industrial a nível nacional e dá passos para a formatação de uma frota industrial, com Porto Novo a contar, por enquanto, de uma embarcação industrial.
O presidente da Associação de Pescadores, Peixeiras e Armadores de Pesca, Altemiro Correia, entende que o setor em Santo Antão tem acompanhado, na medida do possível, o desenvolvimento de Cabo Verde.
“A nível do subsetor da pesca artesanal há ganhos importantíssimos, houve uma melhoria nas embarcações, mas também na aquisição de novas embarcações e novos motores ao longo dos anos”, avança Correia.
Correia destaca uma “forte” potencialidade do setor das pescas na empregabilidade e no rendimento a nível do município, bem como ganhos alcançados. Cita, por exemplo, melhorias na comercialização e conservação do pescado e a instalação de unidade de produção de gelo em Porto Novo, que serve toda a ilha.
Para já, os pescadores esperam a construção de um porto de pesca para melhorar a pesca na ilha.
As áreas económicas e geradoras de rendimento têm sido uma aposta em Santo Antão, no sentido de travar a migração de jovens para outras ilhas, um despovoamento que preocupa as entidades locais.