Os familiares do jovem italiano David Solazzo, que foi encontrado morto em 2019 dentro da casa onde residia na ilha do Fogo, dizem continuar à espera que as autoridades cabo-verdianas lhes esclareçam as razões da morte misteriosa do seu ente querido que trabalhava na ONG Cospe naquela ilha. O Ministério Público diz que o caso decorre os seus trâmites legais e continua em segredo de justiça.
Afamília de David Solazzo diz que continua, de forma “incansável”, à procura da verdade sobre a morte desse seu ente-querido, encontrado morto a 1 de Maio de 2019 por ocasião das festas do município de São Filipe e das Bandeiras na ilha do Fogo.
O jovem de 31 anos e que trabalhava como cooperante no projecto “Rotas do Fogo”, executado pela ONG Italiana Cospe, foi encontrado sem vida numa poça de sangue dentro da casa onde residia, no concelho de São Filipe. Isso depois de regressar do convívio com os amigos no espaço do Presídio na noite de 30 de Abril, onde decorreu o tradicional baile, por ocasião dos festejos de 1 de Maio.
Família descorda da versão das autoridades
A autópsia efectuada ao corpo de David Solazzo aponta que o mesmo morreu por causa de uma hemorragia, devido ao corte de três veias do braço, uma das quais fatal.
E as investigações das autoridades nacionais apontam que os ferimentos foram causados por objectos cortantes, supostamente vidro.
De acordo com as autoridades, David partiu o vidro da janela, para entrar no edifício onde ele vivia, porque não tinha as chaves. Uma tese que não convence os familiares segundo um artigo de opinião de Maria de Lourdes, publicada no
A NAÇÃO nº 711, em que cita Alessandra Solazzo, irmã de David.
Segunda Alessandra, “provavelmente havia alguém com David na entrada do edifício, naquela noite; talvez alguém esperando por ele, ou um ladrão ou alguém que David conhecesse: há muitas mais hipóteses plausíveis do que a do acidente doméstico”.
Alessandra revela ainda que “as chaves foram encontradas inseridas na fechadura da porta do apartamento de David, o que supostamente alguém usou para entrar em casa. Por isso, a família Solazzo não aceita a versão apresentada pelas autoridades cabo-verdianas,considerando a de simples e incorrecta.
O cadáver foi levantado por ordem das autoridades judiciais, nomeadamente do Ministério Público e da delegada de Saúde. Mas, os familiares estranharam, por um lado, “o facto da Polícia Científica (PJ) não ter sido chamada ao local para realizar todas as perícias necessárias” na casa de David, uma vez que o espaço foi encontrado cheio de sangue. E, por outro lado, o facto de o “espaço ser liberado e aberto apenas 48 horas após sua morte”.
Alessandra Solazzo revela ainda que “em Setembro de 2019, verificou que o perfil do seu irmão no Whatsapp foi cancelado (e também todas as mensagens do Whatsapp no telefone). Naquela altura, o telemóvel dele estava e está apreendido nas mãos das autoridades de CV”, aponta.
Silêncio das autoridades cabo-verdianas
No sentido de descobrir o que realmente aconteceu com David, na fatídica noite de 30 de Abril, a família Solazzo conseguiu envolver várias instituições italianas na tentativa de chamar atenção das autoridades cabo-verdianas, para colaborarem na descoberta da verdade.
“Ainda estamos perguntando qual é a razão pela qual os vários pedidos do Ministério dos Negócios Estrangeiro da Itália, encaminhados pela Embaixada da Itália em Dakar ou directamente à autoridade judiciária de São Felipe, permanecem sem respostas”.
A NAÇÃO procurou saber junto da Polícia Judiciária (PJ) em que pé andam as investigações sobre o caso da morte de David Salazzo, mas fomos remetidos para a Procuradoria-Geral da República (PGR). E junto desta fomos informados, simplesmente, que o processo continua sob segredo de justiça e a seguir os seus trâmites legais no Tribunal da Comarca de São Filipe, na ilha do Fogo.
Publicado na edição nº 720 do jornal A NAÇÃO, de 17 de Junho de 2021