O presidente do Instituto do Arquivo Nacional de Cabo Verde (IANCV), José Maria Borges, quer investir numa formação qualificada dos recursos humanos de Cabo Verde para melhor fazer a gerência dos documentos que se encontram nas instituições. José Maria Borges falava à imprensa em virtude da comemoração do Dia Internacional dos Arquivos, que se celebra nesta quarta-feira, 9.
Pessoas qualificadas de Santo Antão à Brava, para fazer uma melhor gestão dos documentos nas instituições, ainda é um desafio que persiste para o Instituto do Arquivo Nacional de Cabo Verde (IANCV).
Conforme o presidente do IANCV, a falta de recursos humanos causou uma má gerência da massa documental nas instituições que ainda não foram transferidas para o Arquivo Nacional. Isso, diz, está a tornar-se um problema segundo a lei de 2004, que diz que as instituições devem criar os arquivos intermédios, fazendo a gestão “do ciclo de vida” e garantir a sua transferência para o arquivo.
“Muitos dos documentos que não foram transferidos estão nas instituições e não sabemos se estão em condições, ou não, porque há um ciclo de vida da documentação que passa pela produção, por uma fase corrente, depois tem uma fase intermedia até à fase permanente, portanto, é preciso que esse ciclo se cumpra. Mas, para isso, precisamos de um conjunto de requisitos que estamos a trabalhar para fazer cumprir”, explica.
Para romper com esta barreira, o INACV, em parceria com a Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) esta a investir num desenho de cursos que possam vir a dar resposta, a curto prazo, à formação de jovens para estarem nos municípios a fazer a gestão da documentação.
De “boa” saúde
José Maria Borges considera de “boa Saúde”, a situação atual do Arquivo Nacional, entretanto, está ciente do risco que a instituição corre devido à sua localização, na parte baixa da cidade, frente a uma orla marítima e ao lado de uma central eléctrica.
“Temos consciência do país que temos, isto aqui, na altura de 1988, quando o arquivo foi criado, no país não havia zonas, edifícios com armazéns para poder abrigar todos os documentos, portanto, foi a opção que se conseguiu encontrar, na altura”, esclarece.
Com o risco à vista e com a necessidade de proteger a memória coletiva, José Maria Borges, avança que estão a movilizar parceiros, nomeadamente as Infraestruturas de Cabo Verde, para desenhar um projeto de um novo edifício, que promete estar pronto até o final do ano. Um projecto que permita situar o arquivo numa zona segura e moderna, projectado para os próximos 50 anos.
Digitalização do Arquivo
A digitalização do arquivo nacional é uma ambição do INACV, neste sentido o presidente diz estarem a trabalhar e a mobilizar parceiros para disponibilizar parte dessa documentação à sociedade, por via de uma plataforma digital. No entanto, informa ser um procedimento lento, que necessita de recursos humanos e financeiros.
“É um processo muito custoso, estávamos a trabalhar com a UNESCO, mas queremos envolver outras organizações internacionais ligadas à questão da segurança, a questão da transferência. Já tivemos contato com a União Europeia e o Instituo de Camões, mas é um trabalho que tem que ser feito por todos, começando por nós do arquivo histórico”, assegura.
O Instituto do Arquivo Nacional de Cabo Verde contém cerca de “8 mil metros lineares de documentos” para serem digitalizados que irão passar primeiro por um processo de tratamento antes de serem colocados no formato analógico.
Este será um grande ganho, especialmente para as pessoas que vivem fora da ilha de Santiago, pois passarão a consultar o documento à distância.
Projetos futuros
Questionado sobre os próximos projetos, José Maria Borges, afirma que o primeiro passo é a regulamentação do regime geral dos arquivos, que foi uma lei de 2004.
“É prioridade, também, a produção dos instrumentos de gestão, o plano de preservação digital, reforçar o corpo técnico desta instituição, adotar o IANCV de mais pessoas formadas nesta área e criar condições de atratividade”, sublinha.
Segundo a mesma fonte, o IANCV pretende recuperar os documentos espalhados pelo mundo referentes à história de Cabo Verde, e não só, e organizar, também, a documentação que está em Cabo Verde, que foi produzida desde a Independência.
“Não temos uma noção clara do estado da documentação que foi produzida desde 1975. Daí estamos a fazer um diagnóstico exaustivo da documentação que é produzida pelos vários ministérios e, a partir dai, traçar uma estratégia de recuperação e transferência desta documentação para o arquivo nacional ou para arquivos municipais”.
Em comemoração do Dia Internacional dos Arquivos, o presidente do Instituto do Arquivo Nacional de Cabo Verde, José Maria Borges, aproveita para sensibilizar a sociedade civil e também todos os dirigentes da importância da preservação da nossa memoria coletiva, durante um encontro que decorreu nas instalações da instituição, na Praia.