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Política

Presidente da Assembleia Nacional: Santiago Sul e São Vicente de fora desde abertura política

Dois dos três maiores círculos eleitorais do país, Santiago Sul e São Vicente, nunca contaram para a eleição do presidente da Assembleia Nacional. Em trinta anos de democracia dois santantonenses já lideraram a casa parlamentar, centro do poder no país, onde Santiago Norte só se estreia agora com Austelino Correia.

Apesar de ser o maior círculo eleitoral, Santiago Sul encontra-se, desde 1991, fora da corrida ao cargo da segunda figura do Estado, que substitui o Presidente da República, quando este se ausenta do país.
Antes, Abílio Duarte, natural da cidade da Praia, ilha de Santiago, presidiu a casa parlamentar, de 1975 a 1991, no tempo de partido único.

Nessa altura, Abílio Duarte, cuja família tem raízes em Barlavento, passando muitas vezes como sendo de São Vicente, representava a linha de contraponto nos poderes do Estado, pois na Presidência da República estava o boa-vistense Aristides Pereira e na chefia do Governo, o foguense Pedro Pires.

Esse era também um tempo em que a maioria dos membros do governo eram oriundos de Barlavento, o que chegou a ser motivo de críticas surdas, já que assunto tabu no regime político de então, em que supostamente pouco ou nada importava a ilha de que o dirigente era oriundo mas a sua fidelidade aos princípios do partido, força dirigente da sociedade e do Estado, PAIGC/CV.

Após o consulado de Abílio Duarte nos primeiros 15 anos da independência, compreende-se, de certo modo, o interregno que se seguiu, no preenchimento da mesa da Assembleia Nacional, dado que é do círculo de Santiago Sul que sai o primeiro-ministro e os presidentes da República, normalmente pessoas com longa vivência na capital do país.

Portanto, Santiago Sul acaba por ter alta representatividade no poder executivo e joga-se com o cargo do presidente do AN para se estabelecer uma espécie de equilíbrio na balança dos órgãos de soberania.

Talvez por isso, uma vez mais, a liderança do Parlamento acabou nesta legislatura por caber a um político de círculo eleitoral que não seja o que cobre a Cidade da Praia. No caso presente, o escolhido foi Austelino Correia, de Santiago Norte, após Jorge Santos ter visto chumbada a sua reeleição.

São Vicente: pouco compreensível

O que não se compreende é que São Vicente não entre nessas contas do poder, sendo actualmente o terceiro maior círculo eleitoral do país e uma ilha com a importância cultural, económica e estratégia que tem ou que deveria ter. Nunca se cogitou um nome dos deputados eleitos à AN por São Vicente para ser a figura maior da casa parlamentar, nem sequer para outros lugares cimeiros da Mesa.

No que à representatividade na mesa de AN e no Governo diz respeito, São Vicente leva goleada de Santo Antão, onde se elege menos deputados e a população residente é bem menor.

Nos últimos 30 anos, dois naturais de Santo Antão – António Espírito Santo, de 1996 a 2001; Jorge Santos, de 2016 a 2021 – chefiaram a casa parlamentar, além de Alberto Josefá Barbosa ter sido primeiro-vice-presidente e, por inerência, presidente do Conselho de Administração, no primeiro mandato de Aristides Lima (PAICV). Este último cargo agora é ocupado por outro santantonense, Armindo da Luz, do MpD.

Santo Antão à frente

Aliás, chama particular atenção o facto de na última semana aquando do chumbo a Orlando Dias para a mesa da AN, solução que colocaria as duas principais figuras da casa provenientes de Santiago Norte, Santo Antão voltar a “ultrapassar” São Vicente.

No jogo de acertos, a escolha recaiu sobre um deputado da Ilha das Montanhas, Armindo da Luz, com apenas um mandato cumprido, portanto sem longo historial parlamentar. Os representantes de São Vicente ficaram, de novo, longe das cogitações e da solução final.

No Governo idem, aspas.
Quatro nomes de Santo Antão fazem parte do novo elenco liderado por Ulisses Correia e Silva: Jorge Santos, Ministério das Comunidades; Carlos Santos manteve-se no leme do Ministério de Turismo e Transporte; Arlindo do Rosário, no da Saúde, e Amadeu Cruz, no da Educação.

Já São Vicente cinge-se a Paulo Rocha à frente do Ministério de Administração Interna. A ele juntam-se dois secretários de Estado: Lídia Lima, na Inclusão Social, e Alcindo Mota, antigo PCA da Electra agora nas Finanças.

A ver navios

Cruzando a ideia de proporcionalidade política e estratégica, torna-se pouco entendível a importância que uma ilha assume e outra não no xadrez da AN e do Governo. Ainda por cima quando é das ilhas que sai o suporte parlamentar que sustenta politicamente a maioria.

Mais a mais, já tivemos presidentes de AN oriundos de ilhas com reduzida representação parlamentar, casos de São Nicolau com Amílcar Spencer Lopes, de 1991 a 1996; Sal com Basílio Mosso Ramos (2011- 2016); Boa Vista com Aristides Lima (2001-2011).

Somados os deputados eleitos nessas três ilhas mencionadas, o total não se aproxima ao dos representantes de São Vicente, antes 11 deputados agora 10, o dobro ainda assim de Santo Antão que apenas tem cinco representantes no Parlamento.

Em São Vicente, uma ilha já por si ressentida pelo centralismo da capital, há quem questione de que vale a ilha ser o terceiro mais importante círculo eleitoral se, na distribuição dos cargos de poder, Monte Cara fica literalmente a ver navios.

(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 717, de 27 de Maio de 2021)

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