João de Deus é um professor natural de Santa Catarina, que reside na Praia há mais de 20 anos. Hoje, no Dia do Professor Cabo-verdiano, deixa uma mensagem de força aos colegas da classe para enfrentarem a pandemia com esperança de que dias melhores virão. Aos jovens que querem seguir a profissão, apela, a que o façam com muita dedicação, profissionalismo e paciência.
João de Deus Monteiro é natural de Santa Catarina de Santiago e trabalha como professor há 33 anos. Começou a lecionar em Santo Antão, mais concretamente, no concelho de Porto Novo, Monte Trigo, em 1988.
Estar frente-a-frente com os alunos pela primeira vez foi para este professor, uma experiência “nada fácil”, ao mesmo tempo singular, única e inesquecível.
“ Lembro-me de ter chegado ao Tarrafal de Monte Trigo cheio de força de vontade e focado em ser um bom professor, pondo em prática o plano teórico que tinha elaborado”, recorda João Monteiro em entrevista ao A NAÇÃO online.
O primeiro ano de trabalho deste professor de ensino primário ficou marcado pelos dias em que viajava a cavalo de Tarrafal de Monte Trigo para planificar as aulas em Porto Novo.
Regresso a “casa”
Depois de um ano em Santo Antão, João de Deus Monteiro regressou à ilha de Santiago para novas experiências nas escolas de Leitão Grande, em São Salvador do Mundo, Rincão, Palha Carga, Chão de Tanque em Santa Catarina e várias outras em cidade da Praia, nomeadamente, escolas de Lém Ferreira, Calabaceira, Pensamento, SOS, Lavadouro, Alternativo, Tecto Zero e Domingos Ramos. Foram dezenas de escolas, milhares de alunos e incontáveis experiências.
Residente na capital há mais de 20 anos, este docente diz que construiu a sua carreira com as experiências que ganhou nas escolas por onde passou.
“Cada uma delas com as suas características próprias em todas as dimensões, algumas com mais exigências, outras nem por isso”, recorda.
Fora da escola, João de Deus diz que em cada comunidade onde viveu colecionou experiências que lhe renderam “amigos e conhecidos” de “boas relações”, até hoje.
Gratificação
Os seus 33 anos de professorado, entre o “ensinar, aprender e viver”, ficaram ainda marcados por momentos gratificantes, pois, como diz, nesta profissão, o que há de bom, são momentos em que a “natureza fala por si e a lei do retorno de aplica”.
“É gratificante quando alguém te aborda na rua para agradecer todo o trabalho que fizeste por ele, contributo que deste na sua carreira, quando já nem me lembrava que aquela pessoa foi meu aluno”, diz acrescentando que este é uma das maiores recompensas que esta profissão, “pai das outras”, tem.
Aos olhos deste professor a arte de ensinar não chega a ser um mar de rosas, pois, como as outras, tem também os seus desafios que não são poucos. Mas, ultrapassa o conceito de uma “simples profissão” para ser “viver para servir”, já que está sempre a ensinar na escola e fora dela.
Desafios e caminhos a seguir
Para os jovens que querem seguir esta carreira, João de Deus Monteiro recomenda que é preciso muita dedicação e profissionalismo.
E, hoje, mais do que nunca, muita paciência.
“Temos muitos jovens que por falta de emprego optam por ser professores. Dias depois, frustram-se porque não estão inteiramente engajados como exige a profissão”, sublinha.
João de Deus admite que muitas coisas mudaram de alguns anos para cá, pelo que ser professor, antigamente, não é a mesma coisa que ser professor hoje em dia.
“Muitas coisas mudaram. Tanto os alunos, como os professores têm hoje melhores condições de trabalho. Professores com mais e melhores formações, alunos com mais oportunidades e autonomia. No entanto, o interesse é menos sobretudo por parte dos alunos que, num mundo globalizado, cheio de informações e melhores oportunidades, têm dificuldades de selecionar o mais importante e focar no que realmente interessa”, explica.
Do que se perdeu, diz, que “antigamente, os alunos e toda a sociedade respeitavam mais os professores e o ensino tinha um papel mais relevante”.
Os maiores desafios do ensino neste momento é traçar estratégias para uma educação mais inclusiva (crianças com necessidades educativas especiais) e, num mundo de tecnologias, saber aproveitar os ganhos sem deixar que a “arte de ensinar” se pareça “algo banal”.
Mensagem alusiva ao dia
Neste Dia do Professor Cabo-verdiano em que as comemorações ficam ensombradas devido ao aumento de casos da covid-19, no país, João de Deus Monteiro deixa uma mensagem de força aos demais professores cabo-verdianos para terem esperança em dias melhores.
“Não tem sido fácil dar aulas com máscara e não poder tocar nos materiais dos nossos alunos e não poder estar perto dos mesmos, como exige a nossa profissão, chega a ser triste. Por isso, nós os professores, e todo o resto da população, temos que lutar sem tréguas para voltar à normalidade. Que Deus abençoe e proteja todos os professores que ensinam o que sabem e aprendem com aqueles que ensinam porque, quem partilha o que sabe, muda a vida daquele que aprende”, finaliza.