ExpertBayes é o nome do software criado pela cabo-verdiana Ézilda Almeida, em Portugal, para apoiar os médicos a diagnosticarem doenças como cancros da mama e da próstata. Apesar do sucesso do seu invento, Ézilda quer regressar a Cabo Verde.
Mestre em engenharia informática e computação pela Universidade do Porto, Ézilda Almeida, 30 anos, é natural do Caleijão, ilha de São Nicolau. Um dia, foi desafiada pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto (INESC TEC), onde trabalha há cinco anos, a criar um software capaz de apoiar os médicos a diagnosticarem melhor doenças como cancros da mama e da próstata. Desafio aceite, desafio vencido.
Conforme contou ao A NAÇÃO, iniciou, em Setembro de 2013, o software ExpertBayes e, em Dezembro do ano seguinte, já tinha uma “versão funcional”, tendo os primeiros testes sido “excelentes” e aqueles que tiveram acesso ao software ficaram “maravilhados”.
“Os profissionais da saúde acharam-no fantástico, pois, em caso de dúvidas, ao fazer um diagnóstico, o software ajuda-os na tomada de melhor decisão”, explica.
Ao fim de 10 anos em Portugal e cinco de experiência profissional adquirida, Ézilda Almeida quer voltar ao seu país natal. “É com muito entusiasmo e motivação que pretendo voltar para Cabo Verde. Quero dar o meu contributo para o crescimento e o desenvolvimento do meu país. Já fiz tudo o que tinha que fazer aqui, em Portugal, está na hora de voltar para casa”.
Enquanto esse dia não chega, a nossa entrevistada é, actualmente, investigadora/programadora na área de Desenvolvimento, Machine Learning e Inteligência Artificial, no Centro de Investigação em Sistemas Computacionais Avançados_CRACS/INESC, no Porto.
Almeida recorda que chegou a Portugal em 2004, para licenciar-se na área da sua formação, depois de ter sido destacada como “aluna de mérito” em Cabo Verde. Isto rendeu-lhe, na altura, uma bolsa de estudos, no que acabou por atingir o grau académico de mestrado integrado, uma norma da universidade onde estudou.
Em 2010 defendeu uma dissertação sobre “Algoritismo de classificação com a opção de rejeição”, que teve como fundamento classificar se um tumor era maligno ou benigno. “Sempre tive uma paixão em associar a área da saúde com a informática, daí o meu projecto final de curso ter sido também nessa área”, explica.
Ézilda Almeida revela que ser engenheira informática nunca foi, na verdade, o seu sonho de infância, mas durante o ensino secundário descobriu que, afinal, era essa a sua vocação. “Ao longo dos meus estudos secundários fui me apaixonando pelas disciplinas de matemática, física, e chegou uma altura em que não restavam dúvidas de que o caminho a seguir era a informática”, conta.
A entrevistada do A NAÇÃO explica que, entre outras, uma das razões que a levaram a optar por esta área foi saber que, ao contrário de outros cursos ponderados, a engenharia informática não a restringe a uma profissão ou a uma função específica para toda a vida. “Hoje agrada-me pensar que os conhecimentos que adquiri vão abrir-me, cada vez, mais portas em diferentes áreas e a minha vida profissional não é monótona”, afirma orgulhosa.
Antes de entrar para a INESC TEC, Ézilda Almeida fez um estágio em Business Intelligence (BI) na Sociedade de Transportes Colectivos no Porto (STCP). Aqui foi responsável pelo desenvolvimento de uma aplicação de BI e implementação de alguns componentes como a criação de um relatório utilizando o Reporting Service. Um outro desafio passou pela criação de cubos de dados como Analysis Service e elaboração de ‘queries’ para SQL Server. Dessa forma, Ézilda Almeida assegura que tem experiência suficiente para trabalhar em qualquer empresa ligada à engenharia e/ou informática, de preferência, em Cabo Verde. “Já mandei o meu currículo a várias entidades e aguardo uma resposta”, afirma. “Sinto que em Cabo Verde poderei ser mais útil, mas para isso é importante que Cabo Verde me queira”.
Software benigno
ExpertBayes, desenvolvido por Ézilda Almeida, não é um trabalho isolado. Faz parte do projecto ABLE (Advice Based Learning) do Centro de Investigação em Sistemas Computacionais Avançados_CRACS/INESC, no Porto, de cuja equipa a nossa entrevistada faz parte. O mesmo tem por objectivo aplicar técnicas de Machine Learning (aprendizagem de máquina) a cuidados de saúde.
Embora há pouco tempo em funcionamento, e ainda alvo de melhorias, esse software teve já uma “grande projecção” a nível internacional, garante sua criadora. “Este software deu origem a um artigo científico e, sendo eu a autora, fui apresentá-lo, em Dezembro de 2014, em Detroit, nos EUA, e consegui mostrar aos outros investigadores a importância desse sistema que demorou um ano a ser desenvolvido”, revela.
“O artigo, que foi aceite na conferência internacional, em Detroit, foi feito assente nos resultados de base de dados reais, isto é, de pacientes submetidos a exames de rastreio dos cancros da mama e da próstata”, acrescenta.
O uso de tecnologias informáticas no campo da saúde é algo que todos os dias conhece novos desenvolvimentos. Os cancros da mama e da próstata são dois domínios que há muito concentram a atenção da comunidade científica mundial. O facto de Élzida Almeida saber que o seu nome está hoje associado à busca de solução para essas duas graves enfermidades é, obviamente, algo que muito enche de orgulho essa cabo-verdiana.
Cabo-verdiana cria software para diagnosticar cancros
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