José Valdemiro Lopes
Lendo aqui, perceberá a resposta á pergunta, que entretanto, será apresentada, mais adiante. O país é jovem em todos os sentidos do termo e caminha para a modernização, a democracia ainda não está consolidada e praticamente, 66% a 70% da população, é jovem e mais de metade dessa franja maioritária dos cidadãos de Cabo Verde, na faixa etária dos 16 – 33 anos, encontra-se no desemprego.
Esta situação social, injusta serviu de acção leitmotiv, que moveu os jovens para a rua, exprimir publicamente o seu descontentamento mostrando a sua “indignação” e “desautorizando”, a iniciativa infeliz, dos seus “legítimos representantes”, da casa parlamentar, os “legisladores” que queriam aumentar suas próprias “dignidades” financeiras, á revelia da situação grave que vive, a primeira vitima do desemprego que assola o país. A juventude reclama legitimamente, há já algum tempo, a sua margem de dignidade, a integração social.
As manifestações pacificas, lideradas por um grupo de jovens mais engajados, pôs a nu, a fragilidade democrática vigente no pais e o cinismo da classe politica nacional, cujos sucessivos governos não fizeram muito, para fazer crescer a economia, condição, necessária á criação de emprego e mais grave ainda, fica-se com a impressão que não se preocuparam a fundo desta questão social, penalizadora, reconhecida por todos, como prioritária, a ser resolvida, na sua totalidade ou em parte nas nove ilhas habitadas.
Cabo Verde tem o dever moral de pensar o futuro já hoje e começar a fazer mudar as coisas e esforçar-se para encontrar soluções práticas para a resolução do problema nacional de desemprego jovem, as respostas praticas deviam ser instaladas e efectuadas de maneira descentralizada, com enfoco nas zonas rurais. As cidades, sobretudo Praia e Mindelo, já não conseguem absorver toda esta massa de jovens desempregados e as promessas eleitorais deviam ser cumpridas, por respeito ao eleitorado. Mesmo se o problema não ser sensível de se poder revolver a cem por cento, temos a consciência disso, mas neste domínio prioritário, a juventude espera uma acção, um sinal na pratica, forte e real e não promessas vãs .
Pode-se afirmar que a situação critica que a juventude cabo-verdiana atravessa é temporária e que ela acabará por se resolver, mas o tempo é um “luxo”, para uma nação, jovem, pequena, insular, em desenvolvimento, neste mundo em transformação constante e o país tem o mesmo governo da mesma maioria politica, em regime de situação e executivo, há já três lustros e o economista, pai da macro economia, John Maynard Keynes, afirmou ser contra o longo prazo, justificando que a termo estaremos todos mortos.
A nova geração cabo-verdiana, mais bem informada e qualificada que as anteriores, já perdeu confiança, nos políticos e é uma geração que tem o seu estilo próprio, maneira de vestir, alguns são adeptos de tatuagens… etc, mas tudo isso é a superfície, o que se vê. O que é que fica invisível ? Que ideia têm da vida ? Que visão têm do mundo ?
Os jovens, valorizam os afectos, a emoção, adoram festivais musicais, mas veem na organização social, a utopia e já não acreditam mais na politica, que realmente distanciou-se da base, a nova geração está sendo vitima de injustiça social e discriminação e é testemunho de praticas de salários “indecentes” auferidos por um punhado de administradores e outros, com salários milionários, evidenciando muito claro, o indicador abissal da diferença salarial praticada, nestas ilhas, que cria e reforça o clube elite, uma minoria detentor de tudo da maioria da população, com quase nada, e muita gente a viver na pobreza e miséria.
A descaracterização da sociedade cabo-verdiana e a consequente perda de valores, cria: apatia, angustia, ausência de um objectivo na vida, sentimento de inutilidade…, condição social aproveitada por grupos sem escrúpulos: traficantes de influencias, dealers de estupefacientes, oportunistas etc. Resultado: mais praticas de violências gratuitas, e a juventude fragilizada recorre, a estupefacientes, alcoolismo, praticas de desordens sociais, de pequenas criminalidades e crimes de sangue…
Se debruçarmos mais sobre os sentimentos dos jovens e os afectos que veiculam, extremismo á parte, verificaremos que transmitem simpatia, manifestam sede de conhecimento e cultura, procuram autonomia um ganha pão seguro, o que a sociedade consciente ou inconscientemente não proporcionou ainda á maioria da população jovem nas nove ilhas habitadas, e nos marginalizados, encontra-se incluído milhares de jovens diplomados, que se encontram na impossibilidade de criar valor, ao investimento feito pelas suas famílias. Conhecemos casos de subempregos que vivem, vários licenciados e quadros qualificados a ganharem salários mensais de dez mil escudos (enfermeiras) e detentores de diploma nível bacharelato a ganharem vinte e poucos contos por mês e por incrível que pareça, isto passa-se nas instituições estatais, com contratos precários e provavelmente fora da protecção social !!
A juventude cabo-verdiana quer trabalho e é a prioridade social a ser resolvida nestas ilhas. Mas criação de empregos, passa necessariamente por crescimento económico!