Por: Olímpio Tavares*
A competência científica e pedagógica dos professores em Cabo Verde deixa muito a desejar. Eu sei que esta afirmação é polémica, mas a realidade confirma isso mesmo. Senão vejamos alguns factos: muitos alunos terminam o ensino básico e o ensino secundário sem saber ler e escrever corretamente; muitos alunos que terminam o ensino secundário têm sérias dificuldades em interpretar um texto básico; muitos alunos não conseguem manter uma conversação em língua portuguesa durante dois ou três minutos, sem cometer dezenas de erros; muitos alunos não conseguem fazer uma frase em francês e em inglês, a não ser para repetir a mesma coisa que o professor disse; poucos alunos possuem um raciocínio lógico e matemático aceitável para o nível que ostentam; entre muitos outros factos que poderíamos trazer para aqui. Essas deficiências têm que ver, a meu ver, com uma fraca competência dos nossos professores em oferecer aos nossos alunos um ensino de fraca qualidade. E isso deve ser assumido frontamente, pelos professores, para que as coisas possam mudar efetivamente.
A aceitação por parte dos professores de que estão a praticar, na maior parte das vezes, um ensino de fraca qualidade é uma condição necessária para a melhoria do ensino em Cabo Verde. A segunda condição para melhorar o ensino praticado pelos professores é fazer a formação contínua, quer formal quer informal. Formal, sobretudo a nível de mestrados e doutoramentos. Informal, sobretudo através de capacitações de acordo com as necessidades cientifico-pedagógicas de cada professor. Essas capacitações poderão ser promovidas pela equipa diretiva, convidando pessoas que têm experiências em diversas técnicas de ensino, por exemplo. Poderá ser promovida pelo ministério da educação, escolhendo alguns professores de cada concelho do país, para participarem numa ação de capacitação, que depois será replicada nos respetivos concelhos, com uma monitorização permanente dos mesmos. A terceira condição é o investimento permanente de cada professor no sentido de criar as melhores condições para os alunos aprenderem mais e melhor.
Que passa, por exemplo, em aceitar as críticas que os alunos lhe fazem relativamente ao ensino que pratica; que passa por diversificar a sua forma de ensinar e não ficando apenas com uma aula expositiva; que passa por perguntar aos alunos quais são as suas reais dificuldades, que muitas vezes tem a ver com a forma como se ensina; que passa por fazer um trabalho colarobativo com os outros professores e com a direção da escola, no sentido de, em conjunto, praticar um ensino que vá ao encontro das reais necessidades dos alunos.
Os professores precisam de dar esse salto qualitativo na forma como ensinam os seus alunos, assumindo como maior responsável por aquilo que os alunos aprendem ou deixam de aprender. Há que deixar de culpar terceiros pelo mau ensino que oferece aos seus alunos. Do meu ponto de vista, os professores têm 50% de responsabilidade sobre o que os alunos aprendem e a forma como aprendem. Entendo que esses 50% devem ser repartidos entre os professores que têm turmas e os professores que estão nas funções de gestão. Aos primeiros podemos atribuir uma responsabilidade de 30% e aos segundos uma responsabilidade de 20%. Os outros 50% podemos distribuir da seguinte forma: 20% para o Ministério da Educação; 15% para os pais; 15% para os alunos.
Os professores devem deixar de ter um discurso de vítima. Porque esse discurso só o enfraquece. Só o coloca numa situação pouco abonatória. O bom senso diz que quando um problema acontece na nossa zona de atuação devemos ter uma posição firme no sentido de resolver esse problema. A solução dos problemas que acontecem nas escolas está nas mãos dos professores. Isto é assim, a meu ver, por vários motivos. Ele é o principal responsável por aquilo que os alunos aprendem, ele é o principal responsável por aquilo que acontece na escola. E se a escola é o principal espaço de aprendizagem dos alunos não têm como não colocar o professor no centro de tudo aquilo que acontece na escola. Portanto, é fundamental que os professores assumam as suas responsabilidades ao mais alto nível, antes de exigir alguma coisa aos outros elementos da comunidade educativa.
*Licenciado em Filosofia, pela Universidade Católica Portuguesa (Lisboa). Atualmente, leciona Filosofia na Escola Secundária “Olegário Tavares”, na vila de Achada do Monte (interior de Santiago.
Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 699, de 21 de Janeiro de 2021