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Economia

Empreendedorismo: “Puff Tattoo”, o tatuador de Assomada

Patrick Gomes Varela, “Puff”, encontrou na tatuagem e no desenho meios para driblar o desemprego. Com estúdio na Assomada, defende uma melhor organização da classe e o reconhecimento da tatuagem como arte. Um turista, na Boa Vista, chegou a pagar 55 mil escudos por uma tatuagem deste tatuador cabo-verdiano. 

Natural de Picos, interior de Santiago, Patrick Gomes Varela, 31 anos, é um artista multifacetado e empreendedor. Há seis meses que Puff abriu o seu estúdio, “Varelart”, na cidade da Assomada, onde faz diversos tipos de trabalhos, nomeadamente tatuagens, desenhos, pinturas de quadros e retratos. Mas também já esteve na ilha da Boa Vista, onde durante vários anos ganhou a vida a tatuar sobretudo os turistas.  

“Sou filho de mãe solteira e criado pela avó na localidade de Picos Acima, ilha de Santiago. Portanto, à semelhança das outras crianças oriundas de famílias humildes do interior da nossa ilha, cresci no meio de muitas dificuldades, mas confortado e feliz”. 

Patrick diz que estudou até à quarta classe, por causa da idade avançada. 

“Fui para escola com 12 anos e aos 16 anos senti-me quase que obrigado a abandonar os estudos para trabalhar e arranjar meios para satisfazer as necessidades pessoais. Nessa altura já conhecia o meu pai e residia com ele na cidade da Praia. Ele não concordou com a minha decisão de abandonar os estudos. Desentendemo-nos e fui morar com uns amigos e comecei a trabalhar na construção civil, Mais tarde fui prestar serviço militar com a intenção de fazer alguma formação, mas o meu nível da escolaridade não ajudou muito”. 

Patrick Varela avança que quando saiu da tropa foi viver em Santa Cruz, onde começou a cantar hip hop juntamente com os amigos, altura que ganhou a alcunha de “Puff”, porque gostava de ouvir e cantar as músicas do norte-americano “Puff Dad”. 

“Desde criança, gostava de desenhar mas a minha entrada no mundo da arte foi pela música, cheguei a ter um estúdio na Achada Igreja, em São Salvador do Mundo, onde gravei trabalho de vários jovens, inclusive de um padre que cantava Rap”.  

Aposta no desenho

O jovem artista revela que a aposta no desenho foi a forma que encontrou para ajudar a mãe a criar os cinco filhos mais novos. 

“Houve uma altura que adoecei e estive entre a vida e a morte e fiquei muito tempo internado no hospital Agostinho Neto; quando saí, tive que ir morar com a minha mãe, em Picos Acima. Nessa altura não podia andar sozinho e nem comer qualquer comida, mas a minha mãe era pobre nem sempre conseguia atender as minhas necessidades”, desabafa. 

Patrick revela que foi nesse período difícil da sua vida que começou a desenhar como uma forma de ocupar  o tempo e esquecer os problemas. 

“Comecei a desenhar os membros da minha família e num belo dia um dos meus irmãos levou o desenho da sua cara para escola e mostrou aos colegas e uma das professoras viu e gostou. E, então, a professora mandou perguntar quanto que eu cobrava para desenhar a foto dela e sua filha. O meu irmão disse-lhe que era quatro mil escudos e ela pagou logo. Várias outras professoras e alunos começaram a pedir”.

A partir disso não mais parou. “Foi a partir disso que percebi que através do desenho podia ajudar a minha mãe colocar a comida na mesa para o sustento da família. Num sábado resolvi trazer alguns desenhos que tinha em casa para expor na praça da Assomada. No final do dia levei um saco de arroz e outros produtos e cerca de seis mil escudos no bolso para casa”. 

Patrick confessa que a partir dessa altura o que começou como um meio de subsistência tornou-se numa paixão. 

“Naquela altura havia muitos emigrantes na Assomada, porque era por ocasião da festa de Santa Catarina e isso ajudou muito na divulgação dos meus trabalhos, uma vez que comecei a receber muitas encomendas dos emigrantes. Mais tarde, participei numa exposição no palácio da cultura Ildo Lobo, na cidade da Praia”, acrecentou. 

Mundo da tatuagem 

Patrick conta que começou a fazer a tatuagem em finais de 2012, através de um cidadão chinês que conheceu na Praia e o desafiou a fazer tatuagem. 

“Esse chinês fez formação em tatuagem nos Estados Unidos, mas estava na Praia a fazer um estágio. Na altura, os meus quadros estavam em exposição no palácio Ildo Lobo e o chinês foi visitar e ficou impressionado e quis que eu desenhasse a foto da sua filha. E foi ali que ele me perguntou se não fazia tatuagens e respondi que não. 

Ele deu-me uma semana de formação, ofereceu-me uma máquina e alguns materiais básicos para começar. Por sorte, como ele ia-se embora, vendeu-me um kit completo por 20 mil escudos. 

Por coincidência, estava a fazer um trabalho no jardim da Igreja de São Salvador do Mundo, pedi ao padre que me adiantasse parte do pagamento, com o qual comprei os meus primeiros equipamentos”. 

Varela adianta que começou a dar os seus primeiros passos na tatuagem em Salvador do Mundo, depois na Assomada de onde deu um salto até à ilha de Boa Vista, onde conquistou o mercado turístico. Mas, com a Covid-19 e a queda do turismo, viu-se obrigado a regressar a Santiago, e é assim que há seis meses abriu um novo estúdio, na Assomada. Actualmente recebe clientes de toda ilha de Santiago e emigrantes que vêm de férias. 

Tatuagem consciente 

Patrick Varela garante que com o passar do tempo começou a estudar mais sobre a tatuagem e a preocupar-se mais com a qualidade dos materiais que utiliza, tendo em conta não só a segurança e a saúde dos clientes, mas também sensibilizá-los a fazerem uma tatuagem consciente. 

“A tatuagem não deve ser escolhida porque está na moda, mas sim como uma forma de eternizar algo ou transmitir uma mensagem positiva. Há certos tipos de tatuagem que têm uma conotação negativa em certos países ou não são aceites mesmo. Por isso, antes de fazer temos que alertar os clientes sobre esses detalhes”. 

Além de tatuar o nome das pessoas e símbolos, desenha a cara de pessoas e figuras emblemáticas. “O preço vai de mil a 18 mil escudos. Algumas pessoas acham isso caro, mas quem conhece o valor da arte sabe que não é caro. Por exemplo, os emigrantes pagam sem problema, por saberem que na Europa ou nos Estados Unidos pagam muito mais. Um turista na Boa Vista chegou a pagar-me 55 mil escudos por uma tatuagem”. 

Patrick Varela defende que há necessidade de criar uma associação dos tatuadores, não só para valorizar a classe, mas também para acabar com os falsos tatuadores. 

“A tatuagem é uma arte mas em Cabo Verde parece que ainda não é reconhecida como tal pelas autoridades. Os estúdios não são legalizados e nenhum dos tatuadores possui certificado e nem cartão de sanidade para trabalhar. Portanto, é necessário mais união entre a classe e menos competição. As autoridades devem começar a ver o tatuador como um artista e um profissional e não como um marginal”, conclui.  

(Publicada na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 699, de 21 de Janeiro de 2021)

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