Nesta edição do “A NÃO PERDER” propomos aos nossos leitores e seguidores dois filmes: “Retrato de Uma Rapariga em Chamas” e “A Vida Invisível”, que bem podem estar entre os melhores de 2020, a medir pelos aplausos da crítica e pelos inúmeros prémios conquistados. A nível dos livros, as nossas sugestões recaem sobre “O Reformatório Nickel”, vencedor do prémio Pulitzer de 2020 de Melhor Ficção, e “Sol da meia-noite” que, só no Brasil, vendeu mais de 40 milhões de exemplares.
FILMES
“Retrato de Uma Rapariga em Chamas” (2019), de Céline Sciamma
Marianne é pintora e tem de pintar o retrato de casamento de Héloïse, uma jovem que acaba de sair do convento. Héloïse resiste ao seu destino de esposa, recusando posar. Marianne tem de a pintar em segredo. Apresentada como dama de companhia, observa-a todos os dias.
Este filme dirigido por Céline Sciamma mostra-nos como o amor é imortal, apesar das extraordinárias barreiras que o conservadorismo sempre criou para esconder os que a guardam dentro de si. Numa altura em que, ironicamente, se almejava a emancipação pelas veredas abstractas do conhecimento, Marianne e Héloïse, dão-se a liberdade de se incendiarem na pele uma da outra.
É essa chama, tão invisível quanto intensa, que os gestos de Marianne, transfigurando esse fogo em formas e cores, vão colocando dentro da sua tela. Apesar da força moral que abafa as suas individualidades e liberdades, ao terem de se entregar aos amores encomendados da sua época, o amor entre estas duas mulheres, e a arte que nelas tem origem, aparece como a mais bela forma de resistência.
A forma inteligente e criativa como Sciamma coloca, através da pintura, duas mulheres a mostrarem ao mundo o seu poder de (auto)representatividade, tão pleno de vida, é, sem dúvida, o gesto político, por excelência, da realizadora. E fá-lo, sem, em nenhum momento, precisar de sobrevoar a obra com abstracções. Se na vida social somos obrigados a percorrer infindáveis e soturnas cavernas, Sciamma diz-nos: “no meu filme, só aponto a câmara para aquilo que arde”.
“A Vida Invisível” (2019), de Karim Aïnouz
Baseado no romance “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, de Martha Batalha, e vencedor do Prémio do Júri no Festival de Cannes 2019, é um filme comovente sobre duas irmãs, filhas de imigrantes portugueses, que são separadas e vítimas de um sistema patriarcal e conservador.
As duas mulheres são forçadas a viverem as suas vidas separadas, sempre na esperança de um dia se reencontrarem. Apesar de viverem na mesma cidade, Rio de Janeiro, as duas irmãs vivem uma vida duplamente invisível, por não se conseguirem reencontrar e por serem mulheres. Ambas vivem uma vida de insegurança, de violência sexual e psicológica, numa busca constante pela independência do homem, que as oprime.
Karim Aïnouz faz um drama de época sobre a importância de pensarmos o nosso presente e da luta feminista pelo alcance na plena igualdade de direitos entre homens e mulheres. Com interpretações soberbas, este é um dos mais belos filmes de 2020 que retrata o sistema patriarcal e machista da época, e que ainda hoje se mantém.
LIVROS
“O Reformatório Nickel”, Colson Whitehead
“O Reformatório Nickel” é um título cuja leitura muitos críticos aconselham neste novo ano. Vencedor do prêmio Pulitzer de 2020 de Melhor Ficção, o livro conta a história de Elwood Curtis, um sonhador e seguidor de Martin Luther King. O garoto negro é sentenciado a um reformatório chamado Nickel, onde os estudantes são abusados e agredidos.
A tensão entre os ideais de Elwood e o ceticismo de Turner, seu amigo, os leva a uma decisão cuja repercussão vai ecoar por décadas. Eles têm duas opções: fugir ou acabar no cemitério onde os outros meninos que tentaram fazer algo contra as autoridades do reformatório se encontram.
“Sol da meia-noite”, Stephenie Meyer
“Sol da Meia-Noite” é um novo livro da saga “Crepúsculo” que angariou fãs do mundo inteiro. O livro, publicado em 2020, retorna com mais um capítulo do romance entre a Bella e o vampiro Edward que conta a mesma história, só que na visão do vampiro. Os fãs mal podiam esperar por essa narrativa, que vendeu mais de 40 milhões de exemplares só no Brasil, segundo o site PublishNews.