O Governo cubano condenou esta semana aquilo que considera uma “fraudulenta designação de Cuba como Estado promotor do terrorismo” por parte dos Estados Unidos da América (EUA).
“O Ministério das Relações Exteriores de Cuba condena, nos termos mais veementes e absolutos, a fraudulenta designação de Cuba como Estado patrocinador do terrorismo”, diz uma declaração do governo cubano, que considera que essa designação é uma “manobra cínica e hipócrita”, anunciada recentemente pelo governo dos Estados Unidos.
Segundo a mesma nota, emitida pelo Ministério das Relações Exteriores cubano, a designação de Cuba como Estado promotor do terrorismo é um instrumento que os Estados Unidos está a usar para “denegrir e implementar medidas económicas coercitivas contra outros países que se recusem a ceder aos caprichos do imperialismo norte-americano”.
“O anúncio feito pelo secretário de Estado Michael Pompeo é uma atitude arrogante de um governo desacreditado, desonesto e moralmente falido. É bem sabido – e há poucas dúvidas a respeito – que a verdadeira motivação desta acção é impor obstáculos adicionais a qualquer possível restabelecimento das relações bilaterais entre Cuba e os Estados Unidos”, acrescenta a declaração.
Cuba reitera que não é um Estado patrocinador do terrorismo e que a sua política oficial tem sido a de “rejeitar o terrorismo em todas as suas formas e manifestações, em particular o terrorismo de Estado”.
Por outro lado, o governo cubano recorda que Cuba já foi vítima do terrorismo, cujas consequências para o seu povo traduziram-se em “3.478 mortos e 2.099 pessoas com
deficiência devido a acções realizadas pelo governo dos Estados Unidos ou que foram perpetradas e patrocinadas a partir do território desse país com a anuência das autoridades oficiais dos EUA”.
Presente envenenado de Trump
Segundo o Secretário de Estado, Mike Pompeo, o Departamento de Estado dos EUA voltou a incluir Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo devido ao seu “apoio continuado ao terrorismo na América Latina”.
Esta decisão, recorde-se, veio assim dar cumprindo a uma ameaça lançada pelo Secretário de Estado, Mike Pompeo, em Junho de 2020 e retificada a 6 de Janeiro do corrente ano (2021).
Numa curta declaração na sua conta no Twitter, Pompeo justificou mais esta medida que já é considerado um “presente” envenenado da administração Trump para a ilha antes deste deixar o governo na próxima quarta-feira, 20 de Janeiro.
“O apoio contínuo de Cuba ao terrorismo no Hemisfério Ocidental deve parar. Hoje, os Estados Unidos estão devolvendo Cuba à lista de patrocinadores do terrorismo para responsabilizar o regime de Castro por seu mau comportamento”, afirmou Mike Pompeo.
Condenações à administração Trump
No entanto, esta decisão também vem sendo repudiada também nos EUA, destacando-se as posições do ex-congressista federal democrata, Joe Garcia, o senador democrata, Patrick Leah, e o ex-assessor de segurança nacional de Obama e negociador da normalização das relações com Havana, Ben Rhodes.
“É uma nova indignidade somada a muitas outras indignidades a que esta presidência sujeitou aos órgãos de inteligência dos Estados Unidos. Como sempre, esse presidente ilegítimo tenta ganhar pontos por meio das instituições do país. Graças a Deus, um novo governo está chegando, ciente da sua responsabilidade para com a nação norte-americana e sua comunidade”, afirmou Joe Garcia.
Por sua vez, Ben Rhodes argumentou que a nova decisão de incluir Cuba na lista de países patrocinadores do terrorismo é um “lixo politizado destinado a amarrar as mãos de um governo que assume o poder em dez dias. Cuba não é um Estado patrocinador do terrorismo. Os cubanos comuns sofrerão enquanto Pompeo pode parecer duro para algumas pessoas em Miami.”
Já o senador democrata Patrick Leahy, que também participou como negociador da normalização das relações com Havana, foi muito duro com o governo Trump.
“Essa designação descaradamente politizada é uma zombaria do que tinha sido uma forma objetiva e confiável de medir o apoio activo de um governo estrangeiro ao terrorismo. Não há nada remotamente semelhante aqui. Na verdade, o terrorismo doméstico nos Estados Unidos representa uma ameaça muito maior para os americanos do que Cuba. O secretário Pompeo defendeu os piores fracassos da política externa de Donald Trump e, enquanto ele sai pela porta, parece determinado a tornar as coisas o mais difíceis possíveis para seu sucessor”, afirmou o senador Patrick Leahy.
Uma história que remonta a 1982
Cuba foi incluída pelos Estados Unidos na lista de países que patrocinam o terrorismo pela primeira vez em 1982, durante a presidência de Ronald Reagan (1981-1989).
Em 2015, o governo de Barack Obama retirou a ilha dessa lista enquanto decorria o processo de normalização das relações
entre os Estados Unidos e Cuba, anunciado pelos presidentes dos dois países no final de 2014.
Mas com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, em 2017, os Estados Unidos voltaram à era das sanções contra Havana e da intensificação do embargo/bloqueio económico, que não proibiram as viagens de cruzeiros e limitações ao turismo dos Estados Unidos para Cuba, como também as remessas enviadas por cubanos residentes noas EUA aos seus familiares na ilha.
Em Janeiro de 2019, o governo Trump afirmou que estava avaliando a inclusão de Cuba na lista dos Estados patrocinadores do terrorismo devido às acções na Venezuela e ao seu apoio à guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) colombiano.