O presidente da república, Jorge Carlos Fonseca, apontou os pobres, idosos, trabalhadores e artistas como os mais afectados pelo desemprego, a ansiedade e a insegurança, na sequência da pandemia da covid-19.
Jorge Carlos Fonseca falava na noite desta quinta-feira (31), durante o seu habitual discurso de final de ano. Para o chefe de estado, apesar das medidas de mitigação das consequências da doença, os custos sociais têm sido muito acentuados, especialmente para as famílias, que vivem em condições de maior fragilidade.
“Os mais pobres, os idosos, os trabalhadores e os artistas têm sido os mais afectados pelo desemprego, a ansiedade e a insegurança”, afirmou Jorge Carlos Fonseca, lembrando que “a situação foi tão séria” que, pela primeira vez, na história de Cabo verde, foi decretado o Estado de Emergência que, sublinhou, para além de ajudar no controlo do quadro sanitário, serviu de importante teste ao sistema democrático do país.
O chefe de estado considera que o estado de emergência foi vivenciado sem que atropelos ao sistema democrático fossem registados e acrescentou que a Constituição da República, a democracia e a sociedade cabo-verdiana tiveram uma boa prestação durante este teste.
“No meio de dificuldades jamais vividas têm-se destacado muito especialmente, sectores que, com alma, entrega, disponibilidade absoluta, se constituíram numa barreira quase intransponível permitindo que resultados muito positivos fossem alcançados. Referimo-nos, em primeiro lugar, aos profissionais da saúde que se transformaram, aos olhos da população, em suas principais referências, quais heróis, ‘os bravos do pelotão’”, disse.
Jorge Carlos Fonseca destacou igualmente, o “papel de relevo” que têm tido os integrantes da Proteção Civil, do Corpo de Bombeiros, da Policia Nacional e das Forças Armadas “que não têm regateado esforços e correm riscos para garantir a segurança da população que, no geral, tem se comportado de forma bem positiva”.
No dizer do Chefe de Estado, Cabo Verde, tendo em conta o panorama geral, pode orgulhar-se de um “relativo sucesso no combate contra a Covid-19, seja pelo nível de contágio e pela resistência do sistema de saúde, mas também pela taxa de mortalidade, uma das mais baixas do mundo”.
“Há bem poucos dias, uma das mais prestigiadas revistas da área considerou Cabo Verde como um dos 10 destinos mais seguros do mundo”, indicou, acrescentando que isto é “motivo de orgulho para todos”.
“Temos, pois, o dever de preservar o que é bom para todos, pois que é fruto do empenho e do sacrifício, não só das autoridades, mas também da sociedade civil, dos cidadãos, no geral”, aconselhou Fonseca.
Na sua perspectiva, a situação da covid-19 no País “tende para alguma estabilização”, mas o mesmo não se pode dizer em relação a vários outros onde residem parcelas “muito significativas de cabo-verdianos”.
“Infelizmente, o quadro da epidemia nessas regiões não tem tido evolução positiva”, apontou , para depois enfatizar que as infecções “têm aumentado, com o seu cotejo de sofrimento e morte e importantes repercussões no emprego e na vida social e familiar de muitos dos cabo-verdianos”.
“Reiteramos a nossa solidariedade a essa parte da Nação cabo-verdiana que tem sido muito castigada pela pandemia e auguramos que seja beneficiada com a vacina que já estará a ser aplicada em muitos desses países”, desejou o Presidente.
Jorge Carlos Fonseca declarou ainda que há cerca de um ano que o país vive em tempo de pandemia, “com consequências gravíssimas” no modo de vida dos cabo-verdianos.
“A epidemia tem tido ainda efeitos desastrosos para o rendimento das famílias, porque destruiu postos de trabalho, paralisou ou encerrou muitas actividades profissionais, negócios e empresas”, admitiu o mais alto magistrado da Nação, para quem “todos sofrem, mas sofrem sobretudo os mais vulneráveis”.
Dirigiu, ainda, uma palavra de “muito afecto, compreensão e solidariedade” aos familiares dos que, no País e no estrangeiro, perderam os seus entes queridos por causa da referida doença e aos que a contraíram e lutam para a debelar.
Jorge Carlos Fonseca recordou quebo final deste ano foi marcado por acontecimentos que enlutaram o País, citando o falecimento da cantora e activista cultural Celina Pereira, que, segundo ele, “para além de cantar Cabo Verde, foi uma militante da afirmação da cabo-verdianidade, no domínio da música e da cultura”.
“Um outro ilustre cabo-verdiano que acaba de nos deixar é Moacyr Rodrigues, apaixonado e estudioso da nossa música, particularmente da morna, que procurou promover através da investigação”, realçou Jorge Carlos Fonseca, que relevou o papel deste intelectual cabo-verdiano na área do desporto e enquanto “estudioso e promotor do emblemático Carnaval mindelense”.
“Essas duas figuras tiveram papel de relevo no processo que conduziu à consagração da Morna como património cultural imaterial da humanidade”, asseverou.
Referindo-se ao desaparecimento físico do presidente da câmara municipal de Santa Catarina, José Alberto [Beto] Alves, defendeu que este faleceu em “condições trágicas quando ainda tinha muito para dar ao seu concelho e a Cabo Verde”.
“Teremos, brevemente, as próximas eleições legislativas e, seis meses depois, as presidenciais.
Elas constituem importantes marcos dos nossos sistema e vivência em democracia. É fundamental que as instituições funcionem adequadamente e que as eleições, essência e sal da Democracia, decorram sem quaisquer sobressaltos”, apontou Jorge Carlos Fonseca.
Sendo esta a sua última mensagem do fim do ano, na qualidade de Chefe de Estado, fez questão de apontar, que, “não obstante as elevadas responsabilidades”, não foi para ele um “sacrifício, antes um prazer e uma honra”.
Para Jorge Carlos Fonseca, é também uma “paixão” estar a exercer o cargo de Presidente da República, “centrado, invariavelmente, na manutenção de um ambiente político que permita aos órgãos e aos protagonistas políticos desempenharem cabalmente o seu papel, seja de governar quanto de fiscalizar e contestar a governação, a nível central ou local”.
“A democracia constrói-se na multiplicidade de papéis sociais que representem, de forma mais fidedigna possível, a nossa rica diversidade”, indicou Jorge Carlos Fonseca, concluindo que a unidade da Nação que interessa aos cabo-verdianos para a construção do futuro “é aquela que passa pela expressão e aceitação da nossa diversidade, nomeadamente, no pensamento político e nas convicções filosófica ou religiosa e nas manifestações artísticas ou culturais”.