O presidente do grupo ALFA, Fernando Ortet, defendeu esta segunda-feira, 24, uma “redefinição” urgente do conceito de jornalista, tendo em conta os “novos tempos” que se delineiam para a comunicação social e, mais particularmente, para a imprensa em Cabo Verde.
Orador da conferência “Que imprensa escrita para os novos tempos?”, organizado pelo Ministério da Presidência do Conselho de Ministros, aquele jornalista e empresário alertou para as dificuldades que continuam a colocar-se para o normal desenvolvimento do sector, desde logo a nível do parque gráfico. A par dos problemas relativos ao mercado publicitário, um outro constrangimento é o da distribuição, num país como Cabo Verde:
“O leitor não imagina os esforços das administrações de cada jornal para poder colocar nessas ilhas o jornal nas manhãs dos dias que saem às bancas… Várias vezes, devido à indisponibilidade da TACV, a única transportadora aérea inter-ilhas, em levar cargas para as ilhas, os jornais são forçados a pagar no mínimo sete vezes mais o valor de um quilo do periódico, para que esse produto altamente perecível vá como excesso de bagagem para os seus destinos”.
Oradora também da mesma conferência, a presidente da Autoridade Reguladora da Comunicação Social (ARC), Arminda Barros, defendeu que, mesmo em Cabo Verde, “o futuro da imprensa escrita é o electrónico”. “Não temos outro caminho”, sublinhou, deixando claro, igualmente, que o futuro passa por um melhor produto jornalístico, com mais e melhores reportagens, mais e melhores entrevistas, etc.
Na mesma senda, Filomena Silva, directora do jornal A Semana, na impossibilidade de estar presente, enviou uma mensagem, onde diz que é preciso ultrapassar os constrangimentos para que Cabo Verde se transforme na “aldeia global” de que tanto se fala, unindo Cabo Verde à diáspora, mas também ao mundo.
“Mas para isso aconteça e seja possível, urge que o acesso local possa acontecer sem constrangimentos através de rádios comunitárias, rádios locais, internet, e tendo em conta a imprensa on-line que continua a ser secundarizada a nível de políticas públicas, legislação, subsídios, só para citar alguns exemplos”, disse.
O director-geral da Comunicação Social, Justino Miranda, que esteve na conferência em substituição do ministro Démis Lobo, ouviu as declarações e afirmou que o Governo está ciente dos problemas enfrentados pela imprensa vive e que estão a ser envidados esforços para melhorá-los.
Conforme reconheceu, um dos maiores constrangimentos colocados pela imprensa é a inexistência de uma gráfica nacional que possa responder à demanda dos jornais, que são impressos lá fora, por diversos motivos, um deles os custos. Neste momento, dos quatro semanários existentes no país, três são impressos em Portugal, sendo este o caso do A NAÇÃO.
A conferência “Que futuro para a imprensa escrita”, que ontem aconteceu, foi a forma encontrada para assinalar, pela primeira vez, o dia da imprensa em Cabo Verde. A data de 24 de Agosto reporta-se a 1842, ano em que saiu o primeiro número do Boletim Oficial do Governo Ultramarino da região de Cabo Verde e da Guiné.
“Hoje, não se pode ignorar o relevante contributo que a imprensa escrita tem dado para o desenvolvimento do país, promovendo o pluralismo, a difusão da informação credível – base importante para a participação democrática – bem como a sensibilização do público para as causas públicas”, disse a organização.
Fernando Ortet quer “jornalistas para os novos tempos”
Por
Publicado em