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Legislativas 2021 – Levarei em devida conta a Plataforma Eleitoral que: 7) Promove fonte de rendimento alternativa à agricultura de sequeiro

Por: António Carlos Gomes

A seca é um fenómeno recorrente na nossa paisagem socioeconómica. Porque assim é, o País deve procurar, em definitivo, uma alternativa à agricultura de sequeiro enquanto fonte de emprego e de rendimento das famílias rurais.

Sectores que merecem particular atenção

Sectores como a aquacultura, a tecelagem, o artesanato, a cerâmica e a transformação de produtos agropecuários devem merecer uma atenção particular das entidades públicas de promoção do setor empresarial porquanto são uma oportunidade, melhor do que o comércio ambulante, para que a vida económica não pára nas   comunidades rurais e as pessoas tenham uma alternativa sólida, de emprego e rendimento, à agricultura de sequeiro e ao emprego de emergência.

Há, na verdade, um leque muito vasto de atividades (pano di terra, balaios e cestos, moringue, potes e vasos, chapéus e boinas) que, se o juízo sobre a sua importância for outro, garantirão rendimento às famílias rurais e isso só não acontece porque, precisamente, não soubemos valorá-las adequadamente.

Na verdade, uma valorização destas atividades inserida numa estratégia de suporte às políticas de promoção do turismo dará um enorme impulso à atividade económica e libertará um número considerável de famílias da pobreza. Terá que ser, no entanto, uma promoção na perspetiva empresarial e não na ótica de subsistência.

Aquacultura: actividade económica promissora

Uma atividade económica muito mais promissora que as aqui indicadas é a aquacultura e não se percebe porquê que as comunidades do litoral como Fazenda do Tarrafal de Santiago, Porto Mosquito, Ribeira da Barca, Preguiça de São Nicolau, Lomba Tamtun e Furna na Brava e Tarrafal de Monte Trigo não tenham beneficiado de uma estratégia nacional de promoção e desenvolvimento do setor da aquacultura.

Aliás, não se percebe a razão do relegado deste importante setor da atividade dos planos de desenvolvimento deste País. É que pelo potencial que tem na geração do emprego e do rendimento, a aquacultura, devidamente estruturada, transformará estas comunidades da pobreza e necessidades em aldeias vitalizadas com relevância na estratégia de segurança alimentar.

É evidente que a aquacultura como parte da estratégia que nos tira deste sufoco (Cabo Verde é um país de crise permanente) terá que ser produto de uma aventura empresarial e não de subsistência como já assinalei.

É também evidente que se o turismo não tivesse consumido toda a massa cinzenta dos que governaram e dos que governam este país, potencialidades outras teriam sido exploradas e a aquacultura é uma delas.

Captar a essência do desenvolvimento

Mas o problema não está apenas nesta cegueira que o turismo nos provoca. Ainda não captamos a essência daquilo que se denomina “desenvolvimento” e nem dominamos o conceito pelo que, até aqui, a nossa exuberância é alimentada pelo alarido “O Produto Interno Bruto está a crescer! O Produto Interno Bruto está a crescer!” e, enquanto isso, nada acontece, de bom ou de mau, na Comunidade de Lomba Tantum ou na Fazenda do Tarrafal de Santiago.

Não é, pois, aceitável nem compreensível que num país arquipélago, com uma costa marítima vasta, passados 45 anos da sua Independência, e com os problemas estruturais que todos nós conhecemos, não haja, em cada uma das nove ilhas, pelo menos uma empresa de aquacultura de produção industrial garante da estabilidade das famílias e que, por esta razão, nos liberta do estresse social que a seca nos provoca e da necessidade de criar postos de trabalho ad-hoc remunerados ao preço do cabaz de arroz e óleo.

Dinamização do sector produtivo no meio rural

Isso não pode continuar porque não é socialmente e economicamente sustentável fazer face, de forma recorrente, a crises sociais provocadas pela seca pelo que temos que ter alternativa à agricultura de sequeiro e isso é possível com um programa, com substância, ku tutanu, de desenvolvimento do setor produtivo e a emergência de empresas de aquacultura é um passo importante neste sentido.

É por demais evidente que um bom Governo se mune, necessariamente, de uma política económica e social que permite os cidadãos, onde quer que estejam a viver, ter um nível de rendimento que lhes garante um padrão de bem-estar humanamente aceitável e sólida de maneira que a seca não seja corrosiva à estabilidade social e económica das suas famílias. Num contexto como o nosso em que não há malhas de proteção, a dinamização e a diversificação do setor produtivo no meio rural é a melhor resposta pelo que atento estarei e viabilizarei a plataforma eleitoral que ambiciona pôr este País a produzir e que apresente, de forma clara e consistente, uma alternativa à agricultura de sequeiro.   (Continua)

Publicado na edição semanal do jornal A NAÇÃO, nº 694, de 17 de Dezembro de 2020

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