O aviso de Ulisses Correia e Silva de que se o partido não ganhar as legislativas perderá também as presidenciais teve várias interpretações tanto no seio do militantes e simpatizantes do MpD como da própria sociedade civil. Uns acham que é a assunção de uma eventual derrota nas próximas eleições legislativas, enquanto, para outros, trata-se mensagem para dentro do partido.
Em tempo de lamber as feridas deixadas pelas eleições autárquicas, que mostraram um MpD em recuo e o PAICV em crescimento, numa reunião com militantes e simpatizantes do partido, na Praia, Ulisses Correia e Silva tratou de ser claro:
“Quem não votou e se absteve, agora é hora de ir votar, porque agora é hora de compromissos mais sérios (…) porque se não ganharmos as legislativas já perdemos tudo, incluindo presidenciais. Não é hora de castigar o MpD e nem de castigar o Governo”.
Os que consideram que esse é o anúncio de uma derrota antecipada, falam do “divórcio” entre a cúpula do MpD e as bases do partido que “foram esquecidas” desde a vitória nas eleições legislativas de 2016 e que tem provocado uma onda de descontente nos militantes e nos simpatizantes, que preferiram não votar nas últimas eleições autárquicas.
Mas, para aqueles olham para a afirmação de UCS como um recado para a navegação ventoinha, esta foi uma forma de “chantagear” os apoiantes de Carlos Veiga que tentam tirar o tapete ao actual líder do MpD e primeiro-ministro. Principalmente na Praia, os veiguistas são acusados de terem ficado “distantes” nas campanhas para as recentes eleições autárquicas.
Segundo uma fonte bem posicionada, tanto Ulisses como Fernando Elísio Freire têm tido uma posição “dúbia” em relação aos “regressados” do PCD, que, na “surdina” tentam tomar conta do partido.
Com a derrota de Óscar Santos, na Praia, e com a saída de cena de Jorge Carlos Fonseca, em Outubro do próximo ano, o PCD, que “quer estar no centro do poder”, ficará apenas com Jorge Santos, como presidente da Assembleia Nacional, na esfera de influenciação política do PCD.
Ao trazer a questão das presidenciais à colação, UCS quis passar a mensagem de que o lugar não está reservado para ninguém.
Aliás, a entrega de “corpo e alma” do presidente da AN na campanha para as últimas eleições autárquicas espelham o desejo de Jorge Santos ser a “escolha natural” do MpD para essa corrida.
Contudo, conforme a nossa fonte, o PAN tem um elevado nível de rejeição nas sondagens internas encomendadas pelo MpD, bem como da própria sociedade civil dada a forma como dirige os trabalhos do Parlamento. A tentativa de cassar o mandado de António Monteiro, da UCID, em plena sessão plenária, veio atestar o seu despreparo para cargos de altíssima responsabilidade como a Presidência da República.
Por outro lado, Carlos Veiga, que é tido como candidato natural do MpD para as presidenciais, prefere não abrir o jogo de momento. Escaldado das anteriores experiências, o líder histórico dos ventoinhas ficará à espera dos resultados das eleições legislativas para decidir se avança, ou não. “Se a vitória do MpD nas próximas eleições legislativas fossem favas contadas como se esperava há alguns meses, Veiga já teria decidido”, concluiu o nosso interlocutor.
Mas quem já marcou terreno é o deputado Hélio Sanches, conhecido advogado de Santa Catarina, que, na semana passada, anunciou a sua candidatura à Presidência da República. Para quem conhece a “família” ventoinha, ao colocar-se nesse tabuleiro, Sanches poderá estar a valorizar a própria cabeça para, no momento certo, negociar a sua retirada de cena a favor de Carlos Veiga.
Apelo
No encontro com os militantes, Ulisses Correia e Silva reconheceu, no entanto, que o PAICV está mais motivado, por causa dos resultados das autárquicas, e um dos efeitos pós-eleitoral é um MpD diferenciado. Não mais o MpD de 2016 que venceu todas as corridas em que participou, reduzindo o PAICV à sua expressão mínima.
Por isso, lançou um apelo no sentido no sentido de se garantir uma maior confiança interna e que a mesma seja transmitida à sociedade no sentido de se mobilizar mais militantes e, no final, convencer a sociedade.
O líder do MpD disse ter notado poucos combates nas redes sociais contra o PAICV e muitos contra o próprio MpD, uma realidade que defendeu ser necessário alterar e combater o principal partido da oposição.
“Sabemos, exactamente, a realidade que temos, pessoas estão em estado de necessidade e de dificuldade e elas têm noção daquilo que pode ser melhor para elas e temos que ter capacidade de fazer diferente daquilo que o nosso adversário faz”, disse, elucidando que o PAICV tem uma estratégia de populismo, isto é, alimentando o estado de insatisfação das pessoas, contando para isso as fraquezas do MpD e do governo, agravadas pela pandemia da covid-19.