A Associação de Amizade Macau-Cabo Verde (AAMCV), criada há 21 anos, contribui para a “perfeita adaptação e integração” dos cabo-verdianos na sociedade macaense. Constituída, maioritariamente, por profissionais liberais e universitários, a presidente Ada Sousa defende que cada conterrâneo deve contribuir para o desenvolvimento de Macau, o que acabará sempre por reflectir no reforço dos laços com Cabo Verde.
A comunidade cabo-verdiana “está perfeitamente integrada” no dia-a-dia da RAEM (Região Autónoma Especial de Macau).
A garantia é da presidente da AAMCV, Ada Sousa, para quem, tanto os que já lá viviam, antes de 1999, como os que chegaram, posteriormente, “adaptaram-se, perfeitamente, à maneira de viver e de estar” da comunidade local.
“Para tirarmos melhor proveito das oportunidades que a RAEM nos oferece, todos, sem excepção, cada um na sua área de actividade, adaptou-se bem, pelo que tem conseguido tirar o melhor proveito das oportunidades que Macau e a suas gentes têm a proporcionar”, manifesta Sousa.
Neste aspecto, a dirigente associativa e activista social entende que, cada um, deve continuar a dar o seu máximo, no sentido da valorização pessoal e profissional, com vista a contribuir para o desenvolvimento de Macau, o que acabará sempre por reflectir no reforço dos laços com Cabo Verde.
Presentemente, a comunidade é constituída, maioritariamente, por profissionais liberais – nas mais diversas áreas -, assim como de elementos ligados à Administração Pública.
“Temos, também, jovens estudantes bolseiros, que frequentam as instituições de Ensino Superior, tais sejam: Instituto Politécnico de Macau, Universidade de Macau e Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, que, ao apostar no ensino da Medicina, passou a contar com uma jovem estudante”, lista Sousa.
Caminhada começada em 1999
A Associação de Amizade Macau-Cabo Verde surge em 1999, numa altura em que o Primeiro-Ministro de então, Carlos Veiga, visita Macau.
“O mote principal era aproximar Macau de Cabo Verde, ainda sob Administração Portuguesa”, revela a interlocutora do A NAÇÃO.
Houve ganhos vários com a criação da Colectividade que tem Ada Sousa no leme.
“Prendem-se, sobretudo, com a ponte que se criou entre a comunidade e as instituições da RAEM, sendo que, presentemente a AAMCV é reconhecida pelas instituições locais, participando, activamente, nas actividades promovidas pelo Governo de Macau, nomeadamente: através do Instituto Cultural, Direcção dos Serviços de Turismo, Instituto para os Assuntos Municipais, entre outros”, manifesta.
Apesar do Homem “ser eternamente insatisfeito e almejar sempre mais e mais” para si e para os seus, Sousa está, pessoalmente, “animada”, com as conquistas que a Associação obteve, nos últimos anos.
“É possível obter-se ainda mais, com o envolvimento activo de todos os elementos da comunidade, no sentido de se dar cumprimento aos objectivos propostos pela Associação”, manifesta, para revelar, todavia, que não foram fáceis “as conquistas amealhadas”, uma vez que tanto ela como os seus pares têm de estar, também, “atentos aos afazeres profissionais e à vida pessoal de cada um”.
Intercâmbios
Do rol do elencado e que ainda não foi materializado, Sousa defende o incremento de relações e de laços de cooperação entre instituições de Macau e de Cabo Verde, com relevo para o Ensino Não-Superior.
“Sentimos falta de promoção de intercâmbios com jovens quadros cabo-verdianos, residentes noutros países e, também, em Cabo Verde”, remarca.
Neste particular, Sousa aponta que a AAMCV, em parceria com outras associações africanas de matriz portuguesa de Macau, apostou na ida de jovens talentos de Cabo Verde para Macau.
“Foram os casos da Dra. Graça Sanches e da cineasta Samira Vera-Cruz, duas jovens entusiastas que trouxeram a Macau uma nova visão dos quadros existentes no País. Aliás, há um enorme potencial na área do saber e da formação profissional, que deve ser conhecido e valorizado noutras paragens”, realça.
Sousa admite replicar “estas duas experiências bem sucedidas”, que lhe faz acreditar na existência de “quadros com um enorme potencial, que poderiam e podem contribuir, grandemente, para a valorização da cabo-verdianidade” naquela Zona do Mundo.
Festa da Lusofonia: evento de marca
O Festival da Lusofonia tem sido, “sem sombra para dúvidas”, o evento principal em que a AAMCV tem participado.
A par disso, nos últimos dez anos, o Governo da RAEM tem investido na Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, na qual a Associação, através de elementos da Comunidade, tem prestado a sua colaboração na divulgação da nossa Cultura.
“Nesse âmbito, apareceu o Grupo Musical ‘Stribilin – Música e Dança de Cabo Verde’, que tem actuado em diversas actividades promocionais, divulgando músicas de cantores já consagrados, além de nos terem surpreendido com sonoridades ligadas ao batuco”, aponta Sousa.
De uns anos a esta parte, a AAMCV tem estado, também, empenhada na organização do Dia de África, que se celebra a 25 de Maio.
“É uma iniciativa de associações africanas de matriz portuguesa, que conta com o apoio de instituições, como a Universidade de São José, a Fundação Rui Cunha e o IPOR. Já vai na sua II Edição. Contudo, este ano não se realizou, por força da Pandemia do COVID-19”, lamenta Ada Sousa.
Pilotos em terra
Tal como noutras paragens, Macau não foi – nem é! –excepção, no que diz respeito à COVID-19, embora já se esteja “quase de volta ao novo normal”.
“Em relação à comunidade, o impacto mais significativo prende-se com os jovens pilotos, que, em boa hora, chegaram a Macau, trazendo uma vivência diferente à comunidade, mas que, infelizmente, nos últimos meses, têm estado em terra”, lastima.
Afora os pilotos, a Pandemia também teve impacto negativo no seio da comunidade estudantil. Por este motivo, alguns estudantes decidiram, em conjugação com os familiares, regressar a Cabo Verde, local a partir do qual fizeram o que restava do Ano Lectivo.
“COVID-19 continua a provocar forte impacto na vida de alguns membros da nossa Comunidade, designadamente, nos estudantes que se encontram fora e não conseguem regressar, porquanto as fronteiras continuam fechadas”, avalia.
Solidariedade
Em Abril passado, numa co-parceria com a Associação de Divulgação da Cultura Cabo-Verdiana naquele Território Chinês, e o apoio institucional do delegado de Cabo Verde junto do Fórum Macau, lançaram uma Campanha de Solidariedade, tendente à recolha de fundos para enviar equipamento e material para face ao surto da COVID-19, que maltrata o Arquipélago.
“Os resultados serão anunciados, brevemente, num balanço que a Organização irá fazer. É necessário cumprir certas formalidades, entre outras diligências, no sentido de concretizar o objectivo que se pretendeu alcançar com a iniciativa”, anuncia.
Confrontada com o período pós-Crise, Sousa avança que “os sinais deste novo começo são animadores”, se se atender que, praticamente, todas as instituições, incluindo os de Ensino, já estão de regresso à normalidade.
“A excepção prende-se com o Sector da Aviação, de modo que fazemos votos para que os nossos patrícios retomem, em breve, as suas funções”, augura.
Acreditar “mais nas pessoas!”
Enquanto presidente da AAMCV, Sousa entende que os saberes, conhecimentos e possibilidades de exercerem influência junto dos seus círculos académicos, sociais, profissionais, entre outros – na Diáspora -, podiam ser melhor aproveitados pelos governantes cabo-verdianos.
“A percepção que tenho resulta dos relatos que nos tem chegado e estão ligados com a excessiva partidarização da nossa sociedade civil. Já é altura de começarmos a pensar para além dos partidos políticos”, desafia.
Ainda ela, já é tempo de se acreditar “mais nas pessoas e não pensar que estão ao serviço de interesses partidários”.
E sustenta: “Se conseguirmos ganhar a consciência de que o interesse nacional terá de prevalecer, será meio caminho andado”.
A modos de conclusão, Ada Sousa remata: “Devemos repensar a nossa maneira de ser e de estar na vida, colocando os superiores interesses do País e dos cabo-verdianos sempre em primeiro lugar”.
“Há sempre um tempinho para o nosso torrão”
Ada Sousa, natural da Praia, estudou no Liceu “Domingos Ramos”. Reside em Macau desde 1998, altura em que foi estudar na Faculdade de Direito da Universidade de Macau.
Licenciada em Direito, é advogada com inscrição suspensa na Associação dos Advogados de Macau. Presentemente trabalha como jurista no Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-Estruturas, na Área da Contratação Pública.
Foi eleita presidente da AAMCV (Associação de Amizade Macau-Cabo Verde) em 2017, e membro da mesma desde a sua criação (em 1999).
Como consegue conciliar o seu tempo de profissional com a de líder associativa?
“Têm-me feito esta pergunta de forma recorrente… Sendo a Comunidade pequena, temos de nos mexer e arranjar tempo para trazer Cabo Verde até nós”, responde à pergunta do A NAÇÃO, para justificar que, “no fundo, quando o assunto é Cabo Verde, há sempre um tempinho para o nosso torrão”.
(Publicado no semanário A NAÇÃO, nº 668, de 18 de Junho de 2020)