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Política

Jovens e mulheres assumem protagonismo

Jovens de ambos os sexos, a rondar os 30 anos, ou menos, assumem posição de destaque nas listas de candidatos às câmaras municipais, assim como às assembleias nas eleições de 25 de Outubro, cuja campanha desenrola em todos os cantos do país. Uns lideram mesmo as respectivas listas nesta corrida, constituindo um sinal de renovação, em que uma nova vaga de grupos de cidadãos procura contrariar o domínio dos partidos políticos.

Mal completou 18 anos, Wilza Delgado, da zona rural do Porto Novo, vislumbrou a possibilidade de dar o seu contributo para fazer ouvir a sua voz nestas campanhas eleitorais. Conseguiu um lugar na lista de efectivo da candidatura da UCID à Assembleia do Porto Novo e está disposta a lutar para que os estudantes, que, como ela, vêm do interior do concelho para estudar na cidade tenham o mínimo de conforto nas suas jornadas.

Audaz, Denise Tavares, de 26 anos, foi mais longe: assumiu a linha da frente do movimento Dja Sta Bom (DSB) e entrou na corrida para a lidar o maior da autarquia do país, na Cidade da Praia. Para a Assembleia Municipal, o mesmo movimento traz à cabeça o também muito jovem, Miguel Nunes, de 23 anos, licenciado em Economia e Gestão de Empresas. O único par pós-90 dos candidatos que encabeçam as listas aos órgãos autárquicos no país.

Carlos Manuel Lopes, conhecido no mundo artístico como Romeu di Lurdis, aos 32 anos, é outro que também não fugiu ao desafio de se candidatar como independente nesta disputa autárquica. Assume-se como protagonista de uma das quatro candidaturas independentes que desafiam os partidos no município da Praia e espelha um perfil dos jovens que dão a cara nesta corrida.

Engajados, a maioria com formação superior concluída quer no país quer no estrangeiro, disputam cargos em lugares elegíveis nos dois órgãos autárquicos: Assembleia (AM) e Câmara Municipal (CM). No caso de Romeu di Lurdis, além de músico, é formado em gestão de Património Cultural pela Uni-CV e faz papel idêntico ao de Cláudio de Sousa, de 29 anos, que está à frente do Movimento Independente Tarrafal, também em Santiago.

Nascida na década de 1990, ainda a democracia pluralista dava os primeiros passos em Cabo Verde, Sielizia Ribeiro, encabeça, por seu turno, a lista do grupo independente Sociedade em Ação para Liberdade à AM da ilha do Sal. Aos 29 anos, formada em Ciências Políticas, Ribeiro desponta com a mais jovem mulher a protagonizar uma disputa ao órgão deliberativo nestas eleições em que as jovens e menos jovens, de diferentes áreas de formação, vão à luta nos lugares cimeiros das listas.

Outro protagonista jovem destas eleições é Sandro Gomes, candidato da UCID à presidência da Câmara do Paul. Com 33 anos, Sandro licenciou-se em Ciências Políticas e Relações Internacionais e lidera uma lista em que todos os efectivos ainda não atingiram os 40 anos, sendo o jovem Valdir Lima, de 28 anos. No Porto Novo, a UCID propôs uma linha idêntica a do Paul. Colocou Domingos Rodrigues, 39 anos, a disputar a presidência da CM, mas os restantes membros da lista efectivos têm menos de 35 anos. Há dois candidatos, aliás, com 25 anos: Elvin Fortes e Luiza Neves.

Mulheres

Se estendermos a análise dos perfis à geração pós-independência, encontramos mulheres e homens a assumirem lugares cimeiros na maioria das listas no país. Só na Ribeira Grande, em Santo Antão, além dos candidatos à presidência da CM Odaílson Bandeira (36 anos, PAICV) e Paulino Dias (44 anos, Alternativa) há duas mulheres a disputar à presidência da AM que nasceram no pós-1975. São elas Licínia Leite, do independente Alternativa, e Leida Santos, do MpD.

Ambas com menos de 45 anos, formadas no estrangeiro em áreas diferentes – Leite, em administração, Santos, em direito – estreiam-se como protagonistas, apesar de terem experiência ou conveniência com a vida política. Licínia Leite já foi vereadora da Ribeira Grande e Leida Santos vem de uma família de políticos, sendo irmã de actual presidente da Assembleia Nacional, Jorge Santos, e mulher do ministro Fernando Elísio Freire. As duas disputam o cargo com o experiente Armindo Cruz, do PAICV.

Perfis idênticos, com mais anos menos anos, têm as mulheres que encabeçam as listas assembleias como a estreante Leida Barros (PAICV) que disputa o cargo com as experientes Lídia Lima (MpD) e Dora Pires (UCID) no município de São Vicente onde só o independente Mais Soncent apresenta um homem para a presidência da AM, Albertino Gonçalves.

Outras candidaturas seguiram caminhos diferentes. Colocaram políticos mais experientes como rostos principais, lei da igualdade do género, “oblige”, chamaram muitas mulheres e homens com cerca 30 anos ou menos para as listas.

Nova vaga

O certo é que uma nova vaga de políticos chega para a assumir a linha da frente do poder autárquico, que é um dos grandes ganhos da Segunda República. Este é, lembre-se, a única disputa eleitoral em que grupos de cidadãos não alinhados com os partidos políticos podem desencadear candidaturas para implementar ideias políticas que sirvam as respectivas comunidades.

Sinal disso são candidaturas independentes, uma dúzia delas, que se apresentam a esta disputa, num número que há muito não se via. Só na Praia perfilam-se quatro, mas também há em São Vicente, Ribeira Grande (Santo Antão), Sal, Tarrafal de São Nicolau, Santa Catarina de Santiago, Tarrafal de Santiago(dois), São Domingos.

Outrossim, com mais ou menos senão, o poder local é o que está mais próximo das pessoas para resolver os problemas do quotidiano. De Dezembro de 1991 a Outubro de 2020, esta é já oitava disputa eleitoral autárquica. Apesar de quase trinta anos, há muito por fazer em aéreas como habitação, ordenamento urbano, saneamento e outras. Ainda assim, Cabo Verde tem-se mostrado como experiência bem-sucedida em políticas e eleições municipais numa sub-região em que muitos países ainda não deram esse passo a caminho de colocar os cidadãos a elegerem quem deve elaborar e implementar projectos nos respectivos concelhos.

Dinossauros em risco

Apesar da tendência renovadora das listas às eleições de autárquicas, de 25 de Outubro, há quem resista a passar o testemunho a outros protagonistas. O tempo corre para todos.

Um dos casos que mais salta à vista é o de Orlando Delgado, na Ribeira Grande, Santo Antão, que desde as primeiras eleições municipais, Dezembro de 1991, está ligado aos órgãos autárquicos naquele concelho. Primeiro, elegeu-se vereador nas listas lideradas por Jorge Santos, e depois passou a presidente da AM e desde 2004 comanda a Câmara da Ribeira Grande.

 Chegou a assumir que não faria mais de dois mandatos, mas vai à disputa do quinto mandato consecutivo e não dá sinais de abrir caminho a outras possibilidades dentro do próprio partido, MpD. Será desta que será rendido?

Eugénio Veiga é outro caso notório da velha guarda. Comandou a Câmara Municipal do Fogo, antes da divisão da ilha em três municípios, e depois sentou-se na cadeira principal da CM de São Filipe por décadas. Perdeu protagonismo naquele concelho, agora reaparece para disputa a Câmara vizinha de Santa Catarina, com o carimbo do PAICV. Concorre com o actual presidente da CM, o “jovem” Alberto Nunes (MpD), que disputa o seu segundo mandato.

Quem também reaparece para esta corrida é Pedro Alexandre Rocha, em Santa Cruz. Um dos rostos do MpD na década de 1990 naquele concelho de Santiago, onde já foi presidente da CM, esse político ressurge para tentar levar o seu partido de volta ao poder um dos dois municípios onde o PAICV resistiu ao avassalador domínio ventoinha em 2016.

Não tendo um currículo de disputa tão extenso, há outros com mais de uma década nessas andanças. Um deles é Augusto Neves, em São Vicente, que entrou na Câmara como vereador da equipa liderada por Isaura Gomes, em 2008, substitui-a dois anos depois por motivos de saúde e desde essa altura não mais largou a cadeira de presidente.

No dia 25 de Outubro, data das eleições, saberemos qual será o nível de renovação dos órgãos autárquicos. Sendo certo que opções variam em muitos municípios e a geração pós-democracia dá sinais claros de que pretende ser mais do que meros figurantes de das candidaturas lideradas por “dinossauros”. A nova geração começa a chegar e dá sinais de querer assumir as rédeas do poder local.

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