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Política

2020, ano das eleições autárquicas: Quem sai e quem fica?

As eleições autárquicas, que deverão ser convocadas para o último trimestre deste ano, deverão dominar as atenções em 2020. O MpD vai ter a difícil tarefa de manter as 18 câmaras municipais que possui neste momento. Mas esse objetivo dependerá, em grande parte, da capacidade política do PAICV, que continua a braços com uma grande crise interna. António Monteiro, da UCID, deverá reeditar o “duelo” com Augusto Neves.

Além de manter as 18 câmaras que possui neste momento, o MpD poderá aumentar o seu score autárquico com o regresso às suas fileiras dos independentes da Ribeira Brava e da Boa Vista, respectivamente, Pedro Morais e José Luís Santos. 

O PAICV, por seu lado, vai procurar conservar as câmaras de Santa Cruz e Mosteiros e ficar à espreita de eventuais deslizes de alguns autarcas do MpD, que dão sinais de um certo desgaste. 

Neste quadro, a reconquista de São Filipe é uma forte possibilidade para os tambarinas, tendo em conta a performance do edil Jorge Nogueira. 

Mas essa possibilidade pode cair por terra se a “família” Estrela Negra mantiver a mesma guerrilha interna que deu origem a duas candidaturas de Eugénio Veiga e Luís Pires, entregando, de bandeja, o seu principal bastião para o MpD. 

Além de Pires e Veiga, Nuias Silva é tido como um outro potencial candidato do PAICV para São Filipe. 

Ao que tudo indica, o MpD vai manter Jorge Nogueira como cabeça de lista para a Câmara Municipal de São Filipe. Nos outros dois concelhos da ilha do Fogo, é expectável a reeleição de Fernandinho Teixeira, nos Mosteiros, e de Alberto Nunes, em Santa Catarina.   

Interior de Santiago

Tarrafal de Santiago é uma outra incógnita. José Pedro Soares, que é tido como um dos autarcas mais apagados do sistema MpD, deverá ser descartado. A NAÇÃO sabe que há movimentações no seio dos ventoinhas no sentido de formatar uma “equipa forte”, com a mesma conversa de sempre, “tirar o concelho do marasmo” em que se encontra. 

Contudo, não é líquido que o PAICV venha tirar proveito da onda de insatisfação que reina nesse município mais ao norte da ilha de Santiago. 

O PAICV parece ter mais chances de conquistar a Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago, se o MpD continuar a apostar em Manuel de Pina. O desempenho deste autarca é muito contestado, mesmo entre os seus pares, que estes dias voltaram a dar sinais de desentendimento. 

À semelhança do que se passa no Tarrafal, há movimentações internas no sentido de se encontrar uma equipa capaz de alavancar o desenvolvimento de Ribeira Grande de Santiago. O jovem Nilton Livramento, que tem dado a cara nos momentos de contestação a Manuel de Pina, é uma possibilidade a ter em conta. 

Fora esses dois municípios e Santa Cruz, que está nas mãos do PAICV, o MpD não terá grandes dificuldades em manter as outras câmaras que detém na ilha de Santiago. Praia e São Miguel são os casos mais evidentes. 

Em São Lourenço dos Órgãos e São Salvador do Mundo o quadro não é tão evidente,  uma vez que tudo vai depender das apostas que o PAICV indicar. 

São Vicente

Em São Vicente, A NAÇÃO sabe que o MpD vai continuar a apostar em Augusto Neves, que também é alvo de alguma contestação, principalmente na “morada”, sendo forte nas “fraldas”.

 Neves é apontado pelos críticos de hoje, com o Sokols à testa, como um dos responsáveis pelo “marasmo” em que a ilha está mergulhada, não podendo agora culpar o governo central, como era o seu apanágio nos outros tempos. 

Contudo, resta saber se o PAICV terá capacidade de encontrar um candidato capaz destronar o actual presidente da Câmara Municipal de São Vicente. 

Seja como for, é certo que o líder da UCID, António Monteiro, pode baralhar as contas em São Vicente. Aliás, pelo andar da carruagem, a ideia é que o embate será fundamentalmente entre Neves e Monteiro. 

Um outro elemento a não esquecer é o que irão fazer os “eternos” descontentes, aqueles que culpam Praia pelos males da ilha, quando muitas vezes os problemas e as soluções estão na própria ilha do Porto Grande. Haverá um grupo independente para corroer, ou mesmo bater, os candidatos das outras forças políticas, algumas já cristalizadas no quadro autárquico mindelense? 

Santo Antão  

O MpD deverá manter a hegemonia em Santo Antão, principalmente na Ribeira Grande, e reassumir o controlo da ilha de São Nicolau, com a reconquista da Câmara Municipal da Ribeira Brava, que está nas mãos do GIRB – Grupo Independente para Ribeira Brava. 

Quem procura o apoio do MpD, neste momento, é o jornalista Alírio Cabral Gomes, que há vários meses já se posicionou como candidato desse partido. 

Boa Vista passará certamente para as mãos do MpD, tendo em conta que o BASTA, liderado por José Luís Santos, já deu sinais de querer regressar a casa, qual filho pródigo. 

Nas ilhas do Sal e do Maio não se prevê qualquer alteração. Júlio Lopes e Miguel Rosa devem disputar o seu segundo mandato como candidatos do MpD. 

Brava é uma incógnita. Aqui as disputas foram sempre equilibradas entre o MpD e o PAICV, e o facto de pouco se falar no actual autarca, Francisco Walter Tavares, que substituiu Orlando Bala, pode ser um sinal do “marca passo” em que a ilha se encontra. 

Uma vez mais, tudo vai depender de quem o PAICV irá comparecer ao combate. O deputados Clóvis Silva é uma forte possibilidade. 

Clarificação em Março

Entretanto, as dúvidas em relação aos nomes, que deverão liderar os projectos autárquicos dos dois principais partidos, serão dissipadas em Março. A partir daí todos eles deverão fazer-se ao terreno para se darem a conhecer junto dos eleitores. 

Em Março de 2019, a Direcção Nacional do MpD aprovou o regulamento que define os princípios gerais, os requisitos do perfil dos candidatos e o processo de escolha dos candidatos aos órgãos autárquicos. E, de acordo com o estabelecido, o MpD concorre com listas próprias em todos os círculos eleitorais. 

“Preferencialmente, a escolha de candidato a Presidente de CM no município onde o MpD é poder recai sobre o Presidente incumbente (em funções), mediante audição prévia da Comissão Política Concelhia e da Assembleia Política Concelhia por parte do Presidente do MpD ou de quem ele indicar”.

No que toca ao PAICV, o porta-voz do Conselho Nacional (CN), Démis Lobo, assegurou que em vários concelhos há pré-candidatos que já manifestaram as suas disponibilidades, mas que a decisão da escolha só será tomada depois do congresso. Explicou também que esta decisão se deve ao facto de a actual liderança entender que “não seria correto” escolher esses candidatos antes da eleição dos novos timoneiros do partido.

Entretanto, sobre o perfil dos potenciais candidatos autárquicos, adiantou que o partido vai realizar estudos de opinião, a fim de ter “critérios objectivos de avaliação” em relação ao possível desempenho de cada um dos pretendentes à liderança das Câmaras municipais.

De referir que além do MpD, PAICV e UCID, a luta política conta, actualmente, com uma outra força política, o Partido Popular. Este, ao contrário de outras formações que apenas aparecem nos períodos eleitorais, o PP conseguiu encontrar uma forma de estar presente no dia dos cabo-verdianos. Tem sido dele, de resto, uma certa oposição, “terra a terra”, denunciando e chamando a atenção para certos problemas da actual sociedade cabo-verdiana. As eleições autárquicas de 2020, principalmente na Praia, poderão mostrar até que ponto os eleitores estão dispostos ou não a dar uma chance ao partido de Amândio Barbosa Vicente. 

Conclaves 

Os dois partidos do arco do poder, PAICV e MpD, reúnem os respectivos congresso/convenção no início deste ano para definir estratégias em relação às eleições autárquicas de 2020 e preparar as máquinas partidárias para as eleições legislativas que deverão ocorrer no primeiro semestre do próximo ano.  

O XVI Congresso do PAICV, que decorrerá de 31 de Janeiro  a 2 de Fevereiro de 2020, vai contar com a participação 364 delegados, sendo 121 delegados natos, 36 quota do JPAI, 36 quota para a Federação das Mulheres e 171 delegados eleitos. 

A XII convenção do MpD decorrerá entre os dias 6 e 7 de Março, na cidade da Praia, e a eleição do presidente do partido e dos delegados para essa conclave está marcada para o dia 9 de Fevereiro.  

Ulisses Correia e Silva, que cumpre o segundo mandato como líder do MpD, concorre à sua própria sucessão nas directas do próximo mês de Fevereiro. É expectável que seja uma candidatura única, tendo em conta que ainda não houve qualquer manifestação de interesse de algum militante para ir a votos.

DA
(Publicado no A NAÇÃO impresso, nº 644, de 02 de Janeiro de 2020)

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