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Ambiente

Geólogo quer “reactivar” projecto de criação do Geopark de São Nicolau

João Duarte é um geólogo português, com raízes em São Nicolau, que há vários anos vem tentando pôr de pé o Dragoeiro Aspiring Geopark. Um projecto que esteve em curso durante a gestão do antigo autarca da Ribeira Brava, Américo Nascimento, mas que ficou “parado”, com a mudança política. Agora, quer reactivar o empreendimento e apela ao engajamento do poder local e central, tendo em conta a importância do mesmo, que ambiciona integrar a Rede Mundial de Geoparques, da UNESCO.

O projecto é ambicioso e tem como base o desenvolvimento sustentável e luta contra a pobreza na ilha de São Nicolau através da potenciação de toda a riqueza geológica da ilha.

A ideia, que começou a ser materializada pela Associação para o Desenvolvimento 24º Oeste, de Coimbra, da qual João Duarte faz parte, começou a dar os primeiros passos, há uns anos, como contou ao A NAÇÃO, durante a gestão do antigo autarca da Ribeira Brava, Américo Nascimento, mas o projecto ficou “parado”, com a mudança política em 2016.

“Desde as últimas eleições municipais, as acções, até então implementadas, foram suspensas, assim como todo o projecto. Agora, para a reactivação do projeto, com a implementação de todas as componentes previstas, é necessário entrar na agenda de prioridades do poder local e central, designadamente, do Ministério da Agricultura e Ambiente e da Direção Nacional do Ambiente, mobilização das populações, assim como meios financeiros que permitam a sua execução”, explicou a este semanário.

O interesse de João Duarte, geólogo, e professor universitário, de profissão, pela Ilha de Chiquinho não é à toa. Pois, como confidenciou ao A NAÇÃO, há um elo “sentimental muito grande” que o motivou a querer contribuir para o desenvolvimento da ilha.

“São Nicolau tem uma história riquíssima e é um berço cultural que não está a ser aproveitado, nem potenciado”, disse. João Duarte é filho de pai cabo-verdiano, nascido precisamente em São Nicolau.

Mas, o que compreende então a criação do Dragoeiro Aspiring Geopark? Como explica o nosso entrevistado, o projecto tem como finalidade a “preparação, implementação e candidatura” desse geoparque, bem como a classificação da ilha de São Nicolau, como Monumento Natural, à Rede Mundial de Geoparques, da UNESCO.

Para isso, chegaram a ser assinados vários protocolos com autoridades locais e instituições sem fins lucrativos, entre elas a União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), Comissão Nacional da UNESCO de Portugal, Associação Humanitária ONGD, Câmaras Municipais do Tarrafal e Ribeira Brava, Parque Natural de Monte Gordo, Associação Tartolho e Associação de Turismo de São Nicolau, entre outras.

Condições naturais

O nosso entrevistado esclarece que, segundo a definição da UNESCO, um geoparque é “um território de limites bem definidos com uma área suficientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento sócio-económico local”.

Mais do que isso, deve “abranger um determinado número de sítios geológicos de relevo ou um mosaico de entidades geológicas de especial importância científica, raridade e beleza, que seja representativa de uma região e da sua história geológica, eventos e processos”.

Um geoparque poderá ainda possuir “não só significado geológico, mas também ao nível da ecologia, arqueologia, história e cultura”.

Na prática, no entender de João Duarte, São Nicolau é uma espécie de laboratório a céu aberto que tem “todas as condições” para a criação de um Geoparque e que não deve ser negligenciado, pois, é um conceito abrangente que poderá trazer ganhos ao nível do desenvolvimento turístico e económico das populações locais.

Duarte explica que a criação de geoturismos, no qual se enquadra um geoparque, tem um papel activo no desenvolvimento económico da região, “através da promoção de uma imagem relacionada com o património geológico”, com “influência directa” nas condições de vida dos habitantes e do meio ambiente.

“Em cooperação com os seus habitantes, visa suportar uma educação para o desenvolvimento sustentável, apoia e investe na investigação científica, nas várias disciplinas das Ciências da Terra, procura sensibilizar para a valorização do ambiente natural, com base nas políticas de Desenvolvimento Sustentável, colaborando com empresas e entidades locais para promover e suportar a criação de novos produtos relacionados com o Património Geológico”, salienta.

Vontade política precisa-se

Na óptica deste investigador, o conceito de desenvolvimento sustentável “implícito” ao projecto terá mais “credibilidade e sustentabilidade”, com o alargamento a todo o arquipélago de Cabo Verde, à semelhança do projeto existente nos Açores. “Se assim as entidades locais o entendam, este é nosso objectivo num futuro próximo”, garante.

Mas, entretanto, a prioridade é São Nicolau. Até porque, como avança, “falta” a implementação da maioria das ações que estão previstas na proposta que visa a preparação, implementação e candidatura do projeto Geoparque”.

“Neste momento”, adianta, “já foram efectuadas algumas ações. Já avançamos com a definição da equipa técnica em parceria com a Câmara Municipal da Ribeira Brava; com caracterização geográfica, geomorfológica e geológica da ilha e com a definição e caracterização dos geosítios de São Nicolau. Também já temos a definição de projetos educativos a desenvolver com as escolas parceiras; a definição de roteiros de turismo cultural e de natureza; a definição de percursos pedestres e definição de actividades de lazer a implementar no Geoparque”.

E caso seja implementado e a candidatura aceite pela Rede Mundial de Geoparques, este projeto será o primeiro a ser desenvolvido na África Ocidental, mas como remata João Duarte, para isso, será necessário haver “vontade política”. O projecto do Dragoeiro Aspiring Geoparque será apresentado entre 22 e 25 deste mês durante o 1º Meetup Treckking São Nicolau.

Gisela Coelho

Foto:Ed Santos

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