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Cultura

Madonna incorpora Batuku para “africanizar” a sua história musical

A residir em Portugal desde Setembro de 2017, Madonna tem vindo a desfrutar da “movida” das noites da Lisboa africana, ainda que num circuito restrito, de que faz parte o cabo-verdiano Dino d’ Santiago. Embora a cantora seja fã de Cesária Évora há vários anos, apenas agora, aos seus sessenta anos de idade, Cabo Verde deverá fazer parte do reportório musical dessa “pop star” mundial.

Dino d’ Santiago contou ao A NAÇÃO como é que este encontro entre Madonna e Cabo Verde acabou por acontecer, em Lisboa: “Eu organizei várias festas privadas, as quais baptizei de Lisboa Criola, onde juntei o que de mais tradicional temos, ao mais contemporâneo, e o que mais a marcou a Madonna foram as BatuKadeiras”.

Questionado sobre o que é que o Batuku terá de tão especial, que fez com que esta diva da Pop se interessasse por ele, Dino d’ Santiago diz que acredita na magia e força deste ritmo de Santiago.

“Primeiramente, a energia contagiante que ela sentiu do ritmo electrizante do Batuku! E, claramente, o facto da Orquestra de BatuKadeiras de Portugal terem preparado a sua primeira apresentação inteiramente dedicada à força da Mulher Africana! Senti que foi algo que a marcou bastante!”, recorda.

Potenciar o Batuku

A NAÇÃO tentou saber outros pormenores deste “casamento” entre Madonna e as batucadeiras, mas Dino d’ Santiago remete-nos para um contrato de sigilo. Isto é, o que já adiantou a este jornal é muito.

“Relativamente a este assunto, todos assinámos um contrato de sigilo absoluto, respeitando a decisão da primeira partilha de informação sair da própria e da sua editora”.

Um sigilo próprio das grandes estrelas da indústria musical mundial, mas que não tira a importância que o facto de Madonna vir a trazer para o seu novo álbum sons de Cabo Verde, trará para a internacionalização deste estilo.

“Acredito mesmo que a história da música de Cabo Verde, no seu todo, vencerá e marcará uma nova fase da música global! De 54 países africanos, foram as 10 ilhas o destino escolhido para africanizar a sua história musical, mais uma passagem breve pela Guiné Bissau de Kimi Djabaté … and We say thank You (E nós dizemos obrigada!)”.

Na altura das gravações, que decorreram no Verão, em Lisboa, Madonna chegou a partilhar vídeos nas suas redes sociais a dar “kutornu” com as batucadeiras e com os filhos acenando bandeiras de Cabo Verde. Ela mesmo deu a novidade: “Dançando com as Batukadera’s de Cabo Verde. Obrigada a estas lindas batukadera’s”.

Agora, resta-nos esperar pelo lançamento do novo álbum de Madonna, que acaba de completar sessenta anos de idade, numa altura em que a sua carreira deverá conhecer um novo momento.

Desta feita, mais próxima de África, um continente que a tem contagiado, ao ponto de ter adoptado quatro filhos no Malawi, onde financia vários projectos sociais virados para o “empoderamento” de meninas.

Como Madonna conheceu Cize

Apesar de só recentemente ter tido contacto mais directo com a música de Cabo Verde, através do projecto Lisboa Criola, em que assistiu a concertos intimistas de Dino d´ Santiago, Lura e Mayra Andrade, há muito que Madonna é fã declarada de Cesária Évora. Foi em Londres, Inglaterra, há 13 anos, que as duas tiveram o seu primeiro encontro.

Foi após um concerto de Cize na sala Annabelís. Depois de assistir ao espect·culo, Madonna ter· pedido para ir ao camarim da Diva dos Pés Descalços e as duas conversaram durante alguns minutos, naturalmente na presenÁa de um tradutor.

Mais tarde, segundo informações vindas a público, Cesária Évora foi convidada para o casamento de Madonna com Guy Ritchie, mas e faltou à cerimónia.

Mais recentemente, já este ano, José “Djô da Silva”, antigo produtor de Cesária Évora, revelou ao Diário de Notícias, que Cesária rejeitou actuar no casamento da estrela da pop.

“Cesária não aceitou ir cantar ao casamento da Madonna, porque – não sei se é culpa da Madonna ou das pessoas que nos abordaram – mas impuseram que seria só um pianista [a acompanhar]”, disse Djô da silva, citado por esse online.

Esse produtor explicou ainda que “Cesária não gostou” do tipo de proposta e disse, na altura: “A Madonna não aceita cantar sem a banda dela. Eu tenho uma banda. Vou, mas com a minha banda”. Foi então que o staff de Madonna terá dito que naquelas condições não dava e Cize disse, então, “que não ia”, esclareceu Djô da Silva.

Ao Diário de Notícias, Djô da Silva teceu ainda alguns comentários sobre os benefícios, ou não do interesse de Madonna pela música das ilhas.

“Tem o seu lado bom e o seu lado mau. Dá uma visibilidade muito boa à música de Cabo Verde, mas pelo que oiço do que se está a passar ela está a exagerar um pouco. Quer ter os artistas a cantar para ela gratuitamente, sem poderem sequer tirar uma fotografia com ela. Acho isso pouco normal”, afirmou a esse online.

Esse produtor finalizou dizendo ainda que “ela nunca iria cantar numa coisa privada sem receber milhões. Não estamos a pedir isso, mas que ela pense que eles também têm de assumir custos na vida deles”.

Orquestra Batukadeira de Portugal, um sucesso

A Orquestra de Batukadeira de Portugal está a fazer muito sucesso. A ideia de criar este projecto partiu de Dino d´Santiago, depois do cantor ter sido convidado pela Associação de Mulheres Cabo-verdianas de Lisboa, através de Zé Fémia e Yolanda Veiga, para ser padrinho do encontro de Batukadeiras em 2017.

“Senti que para a expressão e o movimento ter mais força, seria importante unir os 12 grupos e formar uma única orquestra, para acompanharem vários intérpretes”, explica. E assim surgia essa orquestra. Naturalmente tendo em conta a logística, dado ao número de pessoas envolvidas, para o projecto ser viável foi preciso encontrar uma solução. “Juntámos alguns elementos de cada grupo (sempre rotativo, consoante as possibilidades de cada membro) e a primeira pessoa a ter o privilégio de se deslumbrar com o momento foi a própria Madonna”, recorda.

Hoje a Orquestra recebe convites vindos de todo o mundo e isso não poderia deixar Dino d´Santiago mais “orgulhoso”, por fazer parte dessa história. “Mas é muito importante frisar que eu fui somente um mentor que projectou a ideia e dou todo o apoio na divulgação, mas os grandes pilares que mantêm o barco no mar, e a dedicação diária são as nossas BatuKadeiras, elas sim merecem todo o crédito e em especial a nossa Maria Semedo, carinhosamente tratada por Zé Fémia. Ela sim é psicóloga, professora das que não tiveram alfabetização, motorista, cozinheira, mãe conselheira…”, finaliza.

Gisela Coelho

*Esta reportagem foi publicada na edição impressa nº579 do jornal A NAÇÃO

 

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