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Economia

Ambientalistas e biólogos querem que pesca do tubarão seja banida do acordo de pesca com a União Europeia

Um grupo de biólogos, naturalistas e mergulhadores associaram-se a movimentos ambientalistas de várias frentes para pedir as autoridades nacionais que a pesca do tubarão seja banida do acordo de pesca entre Cabo Verde e a União Europeia.

Em entrevista à Inforpress o biólogo marinho, Rui Freitas, que falou em nome do grupo, “Movimento Contra Poluição em Cabo Verde”, afirmou que este pedido segue após constatarem que está a decorrer uma nova ronda negocial do acordo entre Cabo Verde e a UE, em que se quer que o arquipélago “possa tirar o melhor proveito do acordo”, ou “fazer o melhor acordo” possível.

Por isso, pedem ainda às autoridades que coloquem observadores cabo-verdianos nos barcos da UE que pescam nas nossas águas. Estes defendem que o novo acordo de pesca entre Cabo Verde e a União Europeia deve excluir a captura do tubarão na Zona Económica Exclusiva (ZEE) nacional, porquanto esta pesca “predatória” está a pôr em causa a presença dessas espécies nas águas cabo-verdianas e a afectar os armadores nacionais na captura da cavala que está a migrar para o oceano largo porque já não está a ser encurralado pelos tubarões.

Este pedido do grupo, prossegue Freitas, segue a lógica dos pequenos estados insulares, casos das ilhas Cayman, Virgens e Bahamas e outros estados que estão a banir a pesca de tubarões das suas ZEEs.

Para além disso, segundo o biólogo, há que ter em conta a sustentabilidade dos recursos nacionais, porque uma outra consequência dessa pesca “insustentável” é a mortalidade das tartarugas já que em cada longline (peca de palangreiros de superfície que utilizam iscas para a atracção dos peixes) e em cada aparelho de anzol morre em média mais de dez tartarugas.

“Multiplicado esse valor por 60 barcos por dia são valores que nós desconhecemos, mas que já se começa a ter noção. Por isso há que calcular o custo-benefício”, defendeu Rui Freitas.

Para o biólogo Rui Freitas, hoje não há duvidas de que a falta do tubarão nas águas oceânicas de Cabo Verde veio trazer “desgraça” directamente ao povo cabo-verdiano. É que segundo ele os tubarões, os patrulhadores e controladores, que enroscavam a cavala à costa (top-down control), deixaram de o fazer devido à sua diminuição e, como consequência, está claro que as cavalas migraram para oceano aberto adentro, tornando “escassa e insustentável” a pesca artesanal nacional costeira.

“A quem se deve esta culpa? Será ainda possível voltarmos atrás? Naturalmente, alguns gestores das pescas culpam intencionalmente as mudanças climáticas, pudera!!! Sem dúvidas sofremos hoje essa desgraça provocada pela pesca contínua dos tubarões e atuns na nossa Zona Económica Exclusiva (ZEE), como parte do grande ecossistema marinho do Atlântico tropical de Este, toda ela sufocada e depredada”, criticou num documento assinado pelos integrantes do Movimento Contra a Poluição em Cabo Verde enviado à Inforpress.

Tommy Melo, biólogo marinho e gestor ambiental, é mais critico ao afirmar que hoje em dia já ninguém consegue se esconder atrás das “mentiras” de políticos e multinacionais que só “querem encher o bolso mesmo, deixando à míngua populações humanas.

Para Melo, as evidências de sobrepesca são gigantescas e distribuídas por todos os mares e oceanos. Isto porque, ajuntou, as capturas de há 30 anos atrás não se comparam em tonelagem nem em tamanho de espécimes com as dos dias de hoje (mesmo com um aumento exponencial do esforço de pesca e da tecnologia empregue).

“Já que os estudos e opiniões de ‘Gentes que sim, sabem da matéria’ são tão divergentes, o mínimo que este Governo poderia fazer era seguir o princípio da precaução adoptado por Nações bem mais experientes e ponderadas”, defendeu Tony Melo.

A este protesto juntara-se também mergulhadores que há vários anos vasculham as águas nacionais. O mergulhador técnico e instrutor de mergulho, Emmanuel D’Oliveira garante que nos seus mergulhos quotidianos não tem visto tubarões nos mesmos sítios que os via nas águas do Tarrafal de Santiago há alguns anos. Por isso questiona se “essa dica não serve para inquérito, posterior tratamento estatístico e conclusão científica”.

Outro mergulhador e fotógrafo subaquático, João Sá Pinto, que começou a mergulhar em Cabo Verde desde Março de 1983, portanto há 25 anos, afirmou que em mais de 70% dos mergulhos via tubarões de várias espécies. Mas de 2008 até à data actual (10 anos) não viu sequer meia centena deles.

“Actualmente passam-se meses sem ver nenhum, por isso alguma coisa se passa e não acredito que tenham emigrado”, defendeu João Sá Pinto.

O grupo também vai convidar a selecção de Cabo Verde que ostenta o nome dos Tubarões Azuis a aderir a esta causa.

Inforpress

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