PUB

Sociedade

Crianças cabo-verdianas mais ativas e com mais apetite após distribuição de suplemento com ferro

As crianças cabo-verdianas com menos de cinco anos, a tomar um suplemento vitamínico com ferro desde 2017 devido à elevada prevalência da anemia no país, estão mais ativas, com mais apetite e melhor estado nutricional, revelou uma nutricionista.

Estes primeiros sinais são muito animadores, embora ainda não esteja concluída a avaliação da campanha de distribuição de Vitaferro e, por isso, não possam ser oficialmente atribuídos ao suplemento vitamínico, conforme explicou à Lusa a nutricionista Dulcineia Trigueiro, que trabalha no Programa Nacional de Nutrição de Cabo Verde do Ministério da Saúde e Segurança Social.

O Vitaferro é um conjunto de vitaminas e minerais que é colocado na comida das crianças a partir dos seis meses de idade e até aos cinco anos.

Esta distribuição deveu-se à elevada prevalência da anemia nas crianças cabo-verdianas com menos de cinco anos que atingia os 52% antes do início da campanha, sendo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica de “um problema grave de saúde pública” qualquer prevalência acima dos 40%.

Segundo Dulcineia Trigueiro, esta tão elevada prevalência deve-se a uma inadequada introdução dos alimentos a partir dos seis meses, aliada a dificuldades económicas que impedem as famílias de dar às crianças os melhores alimentos e na quantidade recomendada.

A nutricionista exemplificou com alguns erros alimentares que também contribuem para a doença, como a ingestão de leite a seguir a uma refeição com ferro, o que impede a absorção deste mineral.

Por outro lado, as crianças comem muitos farináceos, muito arroz e pouca carne, ou em quantidade insuficiente.

As dificuldades sentem-se logo a partir dos seis meses, pois “as mães preferem dar papas. As crianças devem comer um pouco de tudo, mas os pais acham que estas não têm condições de mastigar e então dão leite, papas. Não dão frutas, carne. E isso leva à anemia”, adiantou.

A anemia pode levar a “um desenvolvimento cognitivo inadequado e a um pior desempenho escolar: as crianças ficam quietinhas, têm dificuldade em aprender”.

A campanha de distribuição de Vitaferro, que começou em 2017 nos jardins de infância e serviços de saúde do arquipélago, continuando agora apenas nestes últimos, foi um projeto piloto, financiado pela Unicef, que vai até ao final deste ano. Depois disso, serão os resultados da sua avaliação a ditar a sua continuidade ou não.

As autoridades preveem uma diminuição de 20% da prevalência da anemia em Cabo Verde, o que significaria uma melhoria, embora continuasse a existir “um problema grave de saúde pública”.

A prevalência da anemia nestas crianças vai ser agora analisada, assim como o seu estado nutricional, que tem sido avaliado durante as idas dos menores aos serviços de saúde para entrega das saquetas de Vitaferro para os dois meses seguintes.

Segundo Dulcineia Trigueiro, se os dados confirmarem a diminuição da anemia, a estratégia vai revelar-se eficaz e o Governo já terá bases para assumir esta distribuição, até agora sustentada financeiramente pela Unicef.

Os profissionais de saúde e de educação, que trabalham com estas crianças, têm encontrado sinais que apontam para uma diminuição da doença.

“O que estamos a ver é que as crianças passaram a ser mais ativas, melhorou o seu apetite, muitas não comiam e começaram a comer. Melhorou o seu estado nutricional, segundo o que se vê no serviço de saúde”, disse.

Em julho, e para minimizar os efeitos da seca que atinge o país, com consequências na alimentação das crianças, a distribuição de Vitaferro foi estendida às ilhas de Santo Antão e Santiago. Inicialmente, como o suplemento era insuficiente para todas as ilhas, foi dada prioridade àquelas com maior prevalência de anemia.

Atualmente todas as crianças de Cabo Verde estão a ter acesso a este suplemento vitamínico.

Além desta campanha destinada às crianças com menos de cinco anos, desde 2002 que ocorre em Cabo Verde a distribuição semanal de comprimidos de ferro para crianças com idades entre os seis e os 12 anos.

Segundo Dulcineia Trigueiro, foram já entregues às escolas 782 mil comprimidos, para administrar entre outubro e dezembro de 2018.

A nutricionista refere dificuldades em avaliar os resultados desta distribuição de ferro: “Não temos o ´feed back` da escola. Os comprimidos são entregues, resta saber se os meninos os tomam”.

Esta lacuna poderá também ser minimizada aquando do apuramento dos resultados dos inquéritos em curso, os quais deverão ser conhecidos nos próximos meses.

Lusa

PUB

PUB

PUB

To Top