PUB

Política

Primeiras eleições multipartidárias em Cabo Verde aconteceram há 27 anos

Os cabo-verdianos, há 27 anos, foram às urnas, nas primeiras eleições multipartidárias no país, e escolheram o Movimento para a Democracia (MpD), organização política recém-criada, para dirigir os destinos do país, tendo Carlos Veiga como primeiro-ministro.
Foi a 13 de Janeiro de 1991, que se realizaram no arquipélago as primeiras eleições democráticas disputadas pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde, na altura poder, e pelo recém-criado MpD liderado pelo conhecido advogado da praça, Carlos Veiga.
Dessas eleições, o partido ventoinha obteve uma “vitória esmagadora”, elegendo 56 deputados contra 23 do PAICV.
Nos cadernos eleitorais estiveram inscritos 159.988 cidadãos no país e 6.830 pelos círculos eleitorais da emigração, segundo dados, na altura, divulgados pela Comissão Eleitoral Nacional (CEN), hoje Comissão Nacional de Eleições (CNE).
A maior derrota que o PAICV sofrera foi na ilha de Santo Antão, onde o MpD elegeu os dez deputados. Na maior ilha do país (Santiago) os ventoinhas obtiveram uma vitória esmagadora, elegendo 26 deputados contra oito do partido da estrela negra. Em S. Vicente, o resultado fora de dez parlamentares para o MpD e dois para o PAICV.
O PAICV só conseguiu eleger mais deputados que o MpD nas ilhas da Boa Vista (dois contra zero) e Fogo (cinco contra dois).
Numa mensagem à Nação, o então Presidente da República, Aristides Pereira, hoje falecido, considerou que a jornada do dia 13 de Janeiro ia ficar na “história de Cabo Verde”.
“O país escolheu e o que o país escolhe deve ser respeitado como acto de soberania”, lê-se na mensagem assinada por Aristides Pereira, que felicitou o povo cabo-verdiano pelo “civismo e maturidade que deu provas junto às assembleias de voto e nas longas filas onde aguardou calmamente a sua vez”.
Na altura, a CEN calculou que o nível de abstenção terá ficado entre os 15 e 20 por cento.
António Mascarenhas Monteiro, que viria a ser eleito primeiro Presidente da República em eleições pluralistas, garantiu ao extinto trissemanário Voz di Povo que não contava com uma “vitória esmagadora” do MpD naquele acto eleitoral.
“Sempre acreditei na vitória da oposição mas não da forma tão acentuada como aconteceu”, afirmou Mascarenhas Monteiro, para quem, além  da vontade da mudança, a “usura do poder” foi uma outra causa que motivou o eleitorado a apostar no MpD.
Na noite da vitória do seu partido, numa primeira declaração à imprensa, Carlos Veiga afirmou que a vitória do MpD não foi nada inesperada porque desde o passado mês de Junho vinham apostando neste sentido.
“A vitória não é do MpD, é do povo cabo-verdiano”, comentou Carlos Veiga aos jornalistas.
Por sua vez, Pedro Pires, então secretário-geral do PAICV e primeiro-ministro, numa conferencia de imprensa, reagindo à derrota, assegurou que o seu partido continuaria a “bater-se pela melhoria e desenvolvimento da sociedade cabo-verdiana”.
“O PAICV pagou o preço de algumas decisões tomadas e leis aprovadas, nomeadamente as da reforma agrária e a da interrupção voluntária da gravidez”, lamentou Pedro Pires, para quem “essas questões mereceram um ataque cerrado à política do PAICV e mobilizou à volta disso, não sem algum mérito do adversário que tocou pontos sensíveis” e aos quais o partido teve “dificuldades em se defender ou enveredar pelos mesmos caminhos”.
Recordou que, ao se apontar a sua pessoa como ladrão, assassino, e mamador mais o panfleto sobre a fortuna dos líderes com dados não verídicos sobre a mesma, a oposição deve ter influenciado bastante e moralmente o eleitorado”.
Pires foi ainda mais longe ao justificar a derrota do PAICV com a posição que a então hierarquia da Igreja Católica que apelou ao voto pelo MpD.
Na altura, o bispo D. Paulino Évora (hoje bispo emérito) por ocasião da sua mensagem natalícia, apelou todo o católico a “rejeitar a lista do partido que não merece a confiança” porque os seus programas políticos não asseguram o respeito pelos valores mais fundamentais como a religião, a família, a vida – mesmo a vida já dentro do ventre materno, – a liberdade”.
Manuel Onofre Lima, durante cerca de 40 dias, foi um dos principais actores da campanha eleitoral, enquanto presidente da CEN. Foram várias as reclamações acerca do desempenho da Comissão Eleitoral por ele presidida e apontou como uma das causas da deficiência da CEN o número de funcionários posto à sua disposição e a inexperiência de vários deles. Apesar disso, no fim considerou que a missão tinha sido cumprida e que ele e os demais membros da instituição responsável pela organização dos actos eleitorais estavam em “absoluta tranquilidade de consciência”.
Inforpress

PUB

PUB

PUB

To Top