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Julgamento de ativistas angolanos arranca hoje envolto em dúvidas e polémica

A 14.ª secção do Tribunal Provincial de Luanda, em Benfica, nos arredores da capital, deverá iniciar hoje o julgamento de 17 jovens ativistas angolanos, 15 dos quais em prisão preventiva desde junho, acusados de prepararem uma rebelião.
Este caso é visto internacionalmente como um teste à separação de poderes e ao exercício de direitos como liberdade de expressão e reunião em Angola, mas não é certo que se inicie, conforme previsto há mais de um mês, esta segunda-feira.
Desde logo porque os quatro advogados que defendem os 17 arguidos – apenas duas jovens aguardam em liberdade provisória – iniciam o julgamento sem terem tido acesso ao processo, com mais de 1.000 páginas e incluindo escutas e vídeos.
“Disseram-me que têm ordens superiores para não entregarem o processo aos advogados. Eu acho que eles estão é à espera que seja a defesa a pedir o adiamento do julgamento por esse motivo, mas nós já dissemos que não o vamos fazer, vamos denunciar isso na audiência”, afirmou à Lusa o advogado David Mendes, na sexta-feira.
Estão todos acusados, entre outros crimes menores, da coautoria material de um crime de atos preparatórios para uma rebelião e para um atentado contra o Presidente de Angola, no âmbito de um curso de formação semanal que decorria desde maio.
Na altura das detenções, estes jovens ativistas realizavam já a sexta sessão desta formação em que analisavam um livro, segundo o despacho de pronúncia, com base na acusação do Ministério Público.
Para adensar as dúvidas sobre o arranque do julgamento, o próprio tribunal (14.ª secção) mudou de localização nas últimas semanas, de Cacuaco para Benfica, nos arredores de Luanda.
“Diz-se, informalmente, que não há condições no tribunal para começar o julgamento, o que joga em desfavor de quem está preso. Se adiarem, eles vão continuar presos e esse é o problema”, admitiu anteriormente à Lusa o advogado Michel Francisco, que defende outros quatro destes ativistas.
A comunidade internacional e várias organizações de defesa dos direitos humanos têm apelado à libertação dos 15 jovens que se encontram em prisão preventiva, com o Governo angolano a rejeitar o que diz ser “pressão” e “ingerência” estrangeira nos assuntos internos.
O caso tomou outras proporções, internacionais, depois de o ‘rapper’ e ativista luso-angolano Luaty Beirão ter realizado uma greve de fome que se prolongou por 36 dias, obrigando à sua transferência da cadeia para uma clínica privada de Luanda, denunciando o que dizia ser o excesso de prisão preventiva, exigindo aguardar julgamento em liberdade.
A pretensão acabou por não ser atendida, apesar dos sistemáticos apelos da comunidade internacional, nomeadamente com vigílias em várias cidades, sobretudo em Portugal, o mesmo acontecendo com os recursos apresentados pela defesa (um indeferido e alvo de recurso para o Tribunal Constitucional, outro ainda por decidir).
Os 17 arguidos são estudantes, professores do ensino superior, engenheiros, jornalistas e até um militar da Força Aérea angolana, e têm idades entre os 18 e os 33 anos.
O julgamento tem início marcado para hoje, às 09:00 (menos duas horas em Cabo Verde), e tem sessões programadas até sexta-feira, todos os dias.
Fonte: Lusa

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