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Opinião

2015 ponto por ponto

 1. O ano de 2014 terminou sob o signo de violência, e pelo tom dos acontecimentos me parece ser essa uma conclusão consensual; terminou, aliás, como decorreu, num misto de sabura e tragédia. Neste mesmo país onde os spots televisivos institucionais apregoam a morabeza e o espírito de luta do povo, com frequência acompanhamos pela comunicação social notícias de assassinato, de violência e outros crimes hediondos. A insegurança pública, agravada pela ineficácia do sistema judicial e pelo recrudescer da alta criminalidade, confirmar-se-a como uma das maiores preocupações da sociedade cabo-verdiana em 2015. Que venham todas as luzes e que os votos de Bom Ano que coloriram as timelines dos usuários do facebook crioulo de uma ponta a outra se transformem em realidade e devolvam lucidez e bondade a este povo que, apesar de tudo, tem a paz dentro de si.

2. A UNICEF considerou 2014 ano terrível para as crianças em vários países do mundo devido a conflitos armados. Mas em Cabo Verde também temos motivos para nos preocupar. Os centros de emergência do ICCA estão superlotados e, a crer na onda crescente de denúncias, os casos de maus-tratos contra crianças só vêm aumentando no país. A cidadania cabo-verdiana tem o Estatuto da Criança e do Adolescente para aplicar na sua plenitude e a nação, através de instituições de direito, deve contribuir de modo consequente para o processo de revisão do Código Penal em curso.

3. Há muito se fala da cultura de sabura nestas ilhas. Será uma marca da chamada nação global? Seja lá como for, seria desejável que a mesma entrega e folia empreendidas nas festas que escancaram as manhãs fossem aplicadas no quotidiano das empresas públicas e privadas, tanto no nível macro como micro. E aqui falamos da juventude, a própria. Percebe-se um desequilíbrio escandaloso que nos dá a ver uma juventude enganosamente vibrante que vive nas nuvens, numa espécie de paralelo com esta nação que se diz vencedora, mas pouco ou nada produz.

4. Nunca os empresários reclamaram tanto da economia como no ano findo. Crédito à economia estagnado, crescimento anémico, estado a sufocar os privados, com alguns avanços legislativos de permeio, como foi o caso da lei que define o novo regime jurídico para as micro e pequenas empresas. As Câmaras de Comércio Indústrias e Serviços do país reclamaram tanto que os jornalistas já conheciam de cor e salteado os seus argumentos. Mas nos últimos dias do ano, finalmente, a Ministra das Finanças admitiu que o momento é de inflexão na economia e que em 2015 ela terá de sentar-se à mesa com o novel governador do BCV para acertarem as contas do rosário. O desafio será o de equilibrar as políticas orçamental e monetária, sem perder de vista os desafios da economia real. Socialmente, em decorrência do descrito, não será um ano fácil. Não há perspetivas de mudanças substâncias na taxa de desemprego e na taxa da pobreza. Neste sector, só um milagre em 2015 poderá mudar o cenário herdado do ano findo.

 5. A cultura esteve bem em 2014 com a música a assegurar as pontas de forma notável durante os doze meses do ano. Eventos já consolidados a inscrever estas ilhas em algumas rotas respeitáveis da música; Cabo Verde como um porto seguro de um teatro de qualidade, e mais um Festival de Cinema a despontar, desta vez na capital. Iniciativas louváveis que devem consolidar-se em 2015 e dar consistência a uma agenda cultural nacional. A literatura, ainda que de modo tranquilo, continua o seu percurso e este novo ano tem tudo para ser entusiasmante com o surgimento de editoras dinâmicas e muita gente a querer publicar. Devem prosseguir sem temor. Que venham os livros todos em 2015, bons e maus! Há lugar para todos.

6. Uma palavra para a Ilha do Fogo: 2015 será o ano da Ilha do Vulcão. Que a trágica erupção vulcânica que dizimou berços e sonhos no fatídico 2014 sirva de alento para o renovar de esperanças e o alicerce de uma vida nova para um povo tenaz e digno do seu chão. Que os poderes central e municipais tenham traquejo e discernimento para transformar o Fogo na ilha que sempre logrou ser, deixando de lado um certo folclore político que há muito vem atravancando o seu desenvolvimento.

7. 2015 tem tudo para ser um ano marcante, quanto mais não seja pela efeméride redonda do quadragésimo aniversário da Independência Nacional. Este fato por si só vai induzir a uma série de manifestações institucionais e sociais.

8. No desporto, Cabo Verde participará no CAN 2015, na Guiné Equatorial. O futebol continuará a ser nas ilhas o Desporto Rei.

9. Será um ano de afirmação da liderança de Janira Hopffer Almada, mas tal será consolidada por um parto difícil em que a velha matriz do PAICV não reconhece nem apoia, o que pode fragilizar este Partido para as eleições de 2016. Ao MPD também novos e sérios desafios estarão na ordem do dia em 2015.

10. 2015 apresenta-se como um ano pré eleitoral pois o ano seguinte será de três eleições – legislativas, presidenciais e autárquicas. Como jornalista não gostaria de ver, uma vez mais, os conteúdos informativos da Televisão Pública a serem esmagados pela propaganda do governo. Sejamos comedidos neste 2015 que tem tudo para dar certo. Só depende de nós!

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