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Sociedade

Zé Pereira: Superação e fotografia de mãos dadas com grandes causas

O fotógrafo Zé Pereira é, hoje, um exemplo de superação individual. Curou-se da toxicodependência, sendo autor de um livro onde narra a sua experiência, “Bokafumo”, lançado no ano passado. Há dias realizou a sua última exposição de fotografias sob forma de quadros, cuja venda reverteu-se a favor do Centro de Acolhimento de Crianças com Necessidades especiais de Chã de Alecrim.
A toxicodependência é um episódio negro da vida do fotógrafo Zé Pereira, conforme relata, de forma dura, no seu livro “Boka Fumo”, lançado no último trimestre de 2017, pela editora Rosa de Porcelana. Aos dias do vício nas drogas seguiram-se os nove meses de recuperação na Granja de São Filipe e a fase de superação. A obra tornou-se num sucesso de vendas pelo seu ineditismo em Cabo Verde.
Um ano antes do lançamento desse livro, o trabalho de Zé Pereira, enquanto activista social, rendeu-lhe a distinção de “Homem do ano” na gala somos Cabo Verde de 2016.
Ora, no início deste mês, Zé Pereira voltou a mostrar, uma vez mais, a sua faceta de activista comprometido com causas sociais. Durante uma semana, como fotógrafo, realizou uma exposição no Centro Cultural do Mindelo, que reuniu 22 fotografias em quadros. A escolha do dia 1 de Junho para a inauguração da exposição não foi à toa. É que todas a receitas da mesma reverteram a favor do Centro de Acolhimento de Crianças com Necessidades especiais de Chã de Alecrim.
“A exposição surgiu na sequência de um convite que recebi de Deolinda Camões para visitar o centro de Chã de Alecrim. Aceitei o desafio e reuni os quadros, cuja venda reverteu-se a favor desse centro, mas mais importante do que a receita é direccionar o olhar da sociedade para esta causa. O centro faz um trabalho excelente, pelo que fiquei bastante sensibilizado com a visita”, confessa Zé Pereira.
A exposição esteve patente até 8 de Junho e foi possível com a colaboração do Centro Cultural do Mindelo e de outras figuras, como é o caso de Eneida Cruz e Adilson Spínola.
Percurso e entrada na fotografia
Zé Pereira nasceu em São Vicente, a 14 de Julho de 1964. Aos sete anos, com a sua mãe, rumou para Portugal, mudando-se de seguida para Angola. A guerra civil nesse país africano foi pretexto para devolver Zé Pereira e a família à terra natal, então com 13 anos. Aliás, contas feitas, a maior parte da vida do agora fotógrafo foi passada na capital do país. Após o liceu, Zé seguiu, uma vez mais, para Portugal, onde deu início a uma licenciatura em Sociologia, na Universidade Nova de Lisboa.
“Fiz o primeiro ano e algumas cadeiras do segundo e foi precisamente aí que comecei a ter problemas mais sérios com a dependência de droga. Acabei por voltar para Cabo Verde sem concluir a formação”, recorda.
A fotografia entrou aos poucos na vida de Zé Pereira, desde o liceu, através de amigos. Para não ser injusto com os vários fotógrafos com o qual deu os primeiros passos, Pereira não menciona os seus nomes. Entretanto, não esquece o primeiro destes.
“Eu tinha um amigo que estávamos sempre juntos. Na altura ele já era fotógrafo profissional ele tinha o seu estúdio. Ainda era na altura na câmara escura. Saíamos juntos e fotografávamos e depois íamos ao estúdio revelar as fotografias”, prossegue.
Fotografia digital
A fotografia tornou-se assunto mais sério na sua vida, por altura das primeiras solicitações, nomeadamente, a aldeia piscatória de São Pedro, em São Vicente, há quatro anos. “Eu estava com a minha mulher, que é também amante da fotografia. Foi uma exposição só com fotografias de São Pedro, na casa do pescador, feitos por mim e pela minha mulher. Foi também uma forma de mostramos a nossa gratidão pelas pessoas de São Pedro que nos tratam de uma forma incrível”, afirma.
Para Zé Pereira, todas as exposições tem o seu grau de importância, pelo que definir a mais marcante seria uma atitude meio ingrata.
Ofício
Desde 2015, Zé Pereira é formado em Relações Públicas e secretariado executivo, algo que até então diz nunca ter exercido formalmente. Por outro lado, tem-se dedicado e muito à fotografia, enquanto freelancer, tal é a aceitação do seu trabalho.
“Viver da fotografia é extremamente difícil, pese embora eu não ter razões de queixa. Se calhar até, sem falsas modéstias, o meu trabalho tem tido aceitação e tenho estado a receber solicitações de diversas ilhas, mas não é fácil. E do próprio trabalho em si, num mês, pode-se ter várias solicitações e haver dificuldades em agendar alguns trabalhos. Na mesma medida no mês seguinte aparecem poucos trabalhos”, sustenta.
Importa, neste caso, fazer-se uma gestão sustentável, até porque o preço das câmaras fotográficas, lentes e demais acessórios estão bem acima das reais possibilidades do cidadão comum.
Amante da arte e natureza
O trabalho de Zé Pereira é, essencialmente, arte e natureza. Mas o fotógrafo não se fecha em preconceitos, dizendo sentir-se também atraído pela beleza das outras coisas.  “Sinto-me atraído pelo conteúdo, daí que faço muito a fotografia intervencionista, onde tento sensibilizar quer para protecção e conservação do meio ambiente, como situações de injustiça social, meninos em situação de rua, extrema pobreza. Talvez aquilo não seria uma fotografia bonita mas sim uma fotografia rica em conteúdo”, acrescenta.
A ambição de Pereira passa por continuar na mesma linha do que tem sido o seu trabalho. Onde quer que passe, o fotógrafo regista paisagens e pessoas, indiscriminadamente. O grande desafio e que deixa aos mais novos é a exploração da fotografia a nível subaquático, algo que até então ele não se atreveu.
 

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