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Sociedade

Estátua de Cabral a caminho do “Homem da Pedra”

O Memorial Amílcar Cabral está em vias de ser trasladado para a rotunda “Homem da Pedra”. É que, com a construção do novo edifício da embaixada dos Estados Unidos da América (EUA), na cidade da Praia, a Escola “Cónego Jacinto” poderá ser reerguida no terreno onde se situa o memorial. Os companheiros de Cabral são contra a solução tão “pouco dignificante”.
O processo de construção de um grande complexo arquitectónico, onde os EUA pretendem construir a sua embaixada e outros serviços, prossegue. E ao que A NAÇÃO apurou, os americanos já adquiriram todo o terreno à volta do Palácio da Várzea, inclusive o espaço onde se situa, actualmente, a Escola Secundária Cónego Jacinto.
De acordo com fontes várias, a ideia da Câmara Municipal da Praia é trasladar o Memorial Amílcar Cabral, bem como a estátua, para a rotunda do “Homem da Pedra”. Esta transferência não agrada, porém, a Fundação Amílcar Cabral (FAC), que considera a solução “pouco dignificante” para o seu patrono.
O presidente da FAC, Pedro Pires, confirmou ao A NAÇÃO o projecto da CMP, mostrando claramente qual é a sua posição: “Fomos informados do projecto e manifestamos o nosso desacordo, porque, pensamos, não faz sentido. Contactámos as entidades que, sobre isso, poderão decidir e aguardamos a resposta”.
Entre as entidades contactadas constam o presidente da CMP, o presidente da República e o primeiro-ministro.  Pedro Pires diz-se esperançado que, neste como noutros assuntos relativos a Amílcar Cabral, o bom-senso acabará por prevalecer. “Não vale a pena provocar um conflito dessa natureza hoje em Cabo Verde. Temos que ser sensatos e estou convencido de que o bom-senso prevalecerá”.
Uma outra preocupação, sabe também este jornal, refere-se ao complexo que os EUA pretendem erguer, paredes meias, com o Palácio da Várzea, sede oficial do Governo de Cabo Verde.
Igualmente cauteloso, sobre esse assunto, o antigo primeiro-ministro e ex-Presidente da República diz que tem ouvido “rumores” vários, sublinhando que ainda não há “nada oficial”.
“Não sei concretamente o que se trata, penso que há um certo sigilo no tratamento dessa questão e o mais razoável seria que se falasse claramente aos cabo-verdianos do que se trata”, defende Pedro Pires. Até lá, ressalta, “não emito nenhuma opinião valorativa à volta disso, porque desconheço”.
Há quem entenda que por se tratar de um dos principais edifícios de Cabo Verde a zona à volta do Palácio da Várzea, enquanto sede do Governo, deveria ser preservado de outras construções, mormente da embaixada de um país estrangeiro, no caso os EUA.
A grande questão é se neste momento as autoridades nacionais não deixaram o assunto avançar demasiado, não obstante os alertas lançados a partir da comunicação social, nomeadamente do A NAÇÃO que, por diversas vezes, escreveu sobre este assunto. Em Fevereiro passado, no número 547, de 22-02-18, este assunto era claramente mencionado.
Além do terreno pertence ao Clube de Ténis da Praia, que a CMP resolveu chamar a si, há também o terreno onde se situa actualmente a Escola Secundária Cónego Jacinto, bem como o lote contiguo à rampa da Terra Branca, propriedade de um privado, já vendido aos americanos.
Para o cabal esclarecimento da transferência do Memorial Amílcar Cabral A NAÇÃO procurou ouvir a CMP, mas até ao fecho desta edição, os nossos contactos com o presidente Óscar Tavares ou com o vereador Rafael Fernandes revelaram-se infrutíferos.
*Escritos de Amílcar Cabral a “Memórias do Mundo” da UNESCO
Abraão Vicente agastado
O projecto de elevar os escritos de Amílcar Cabral à categoria de Memória do Mundo da Unesco está envolto em polémica. A iniciativa da Fundação Amílcar Cabral (FAC), que conta já com o apoio da CPLP, não agrada o ministro Abraão Vicente.
A FAC elegeu como seu desafio primordial para o biénio 2018-2019 a inscrição dos escritos do seu patrono no programa Memória do Mundo da Organização das Nações Unidas para a Educação (UNESCO). Um projecto que conta já com o apoio da Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa (CPLP), conforme foi recentemente anunciado.
O anúncio não caiu, contudo, no agrado do ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, para quem este “é um processo que deve e só pode ser conduzido pela Comissão Nacional da Unesco e pelo Ministério da Cultura”.
Em declarações à RTC, na passada sexta-feira, 06, Abraão Vicente disse ter tomado conhecimento, na véspera, da decisão da CPLP. “É importante que se diga que qualquer candidatura a Património da Humanidade ou a Memórias do Mundo tem de ser dirigida pelos peritos do Ministério da Cultura e não por comissões Ad hoc”, realçou o governante.
“Nós temos que ser pragmáticos”, prosseguiu Vicente, garantindo que, da parte do Governo, há interesse em ver os escritos de Amílcar Cabral inscritos como Memória do Mundo, mas “é importantíssimo não darmos passos fora dos espaços institucionais”.
E mais: “É importante que se respeite Cabo Verde lá fora. Qualquer pedido de apoio institucional, por mais que a FAC tenha legitimidade para o fazer enquanto o patrono da Memória de Amílcar Cabral, é importante perceber que há instituições da República que são as responsáveis por esses processos”.
Segundo o governante, houve uma manifestação da vontade por parte do presidente da FAC, Pedro Pires, numa reunião que manteve com ele, “mas também deixei claramente que importante haver algo institucional para a construção e não vamos aceitar a imposição de uma comissão técnica e de uma comissão que não seja em diálogo como Ministério da Cultura e da Comissão Nacional da Unesco”.
Pedro Pires não quer polémicas
Instado por A NAÇÃO sobre as declarações de Abraão Vicente, o presidente da FAC, Pedro Pires, diz não querer entrar em “polémicas” com ninguém. Ainda assim, afirmou que, da parte da FAC, está-se “a trabalhar o dossiê com todos os interessados”. “Nós, enquanto FAC, não queremos entrar em polémicas, porque não ganhamos com isso”.
Segundo a FAC, a inscrição dos escritos do seu patrono no programa Memória do Mundo da UNESCO é uma iniciativa “audaciosa e pioneira” em Cabo Verde e representa uma condição “indispensável” para a plena valorização, preservação e divulgação do líder histórico da independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Amílcar Cabral, de acordo com a FAC, é considerado por muitos estudiosos como o “mais brilhante e fecundo” entre os líderes dos movimentos contemporâneos de libertação nacional africano. “As suas obras escritas, as suas reflexões e atitudes éticas são conceituadas como um património político e intelectual de grande valor para a construção de uma outra África e a inspiração tão necessária das gerações vindouras para enfrentar os novos desafios que se anunciam”.
“Unidade e Luta (Vol. I e II)”, “Pensar Para Melhor Agir”, “Cabo Verde: Reflexões e Mensagens”, “Ensaio de Biografia Política”, “Por Cabral Sempre” e “A Emergência da Poesia em Amílcar Cabral” são as obras que a FAC pretende apresentar nessa candidatura.
DA & JVL

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