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Cultura

“Filhos de Deus”, 35 contos de Dina Salústio

“Filhos de Deus” é o mais recente livro de Dina Salústio, lançado na semana passada, na cidade da Praia. Um conjunto de 35 contos que, segundo a autora, são histórias, crónicas, reflexões e olhares sobre a sociedade e as relações interpessoais. Na gaveta, a escritora de 77 anos tem um romance a ser lançado, provavelmente, em Dezembro.
Conforme a autora, apesar de haver alguma semelhança no tratamento de certos assuntos, o livro é, ao mesmo tempo, diferente, resultado da evolução que Cabo Verde conheceu ao longo dos últimos 20 ou 30 anos depois da estreia da autora na literatura. Primeiro em participação em revistas e jornais e só depois, em 1994, através do primeiro livro, “Mornas eram as noites”.
No fundo, segundo conta ao A NAÇÃO, o conjunto de 35 textos que formam “Filhos de Deus” é um bocado da “psicanálise da sociedade” cabo-verdiana de hoje, seus anseios e problemas. “Desta vez não é tão directivo sobre as mulheres como aconteceu em ‘Mornas eram as noites’, são reflexões, contos, crónicas e monólogos”, afirma.
Sem muito tempo, nesses últimos anos, para se dedicar à escrita, por motivos vários, este novo livro levou dois anos a ser produzidos. “Não escrevo como tarefa de rotina, escrevo quando tenho tempo”, confessa. Nesta colectânea, ficamos a saber, as personagens são diferentes de há 20 anos atrás, embora, no dizer de Dina Salústio, tenham sempre os mesmas características dos cabo-verdianos, “com os nossos egocentrismos, olhares, ambições e sumições”.
“A sociedade evoluiu. Se em ‘Mornas eram as Noites’ e em outras intervenções que eu tenho feito, responsabilizo mais os homens pela paternidade irresponsável, por exemplo, já neste livro não ponho o assento neste aspecto, porque já se passaram muitos anos, e já se fez muita intervenção na formação de mentalidades, as pessoas hoje são mais livres, mais maduras, mais responsáveis”, destaca a autora natural de Santo Antão.
A Dina Salústio é tida como uma das escritoras que melhor material oferece para trabalhar nas escolas, nomeadamente, a nível do ensino secundário. E este livro, ao que tudo indica, não foge a essa ideia. “Sem dúvida, querendo, é um material que pode ser considerado interessante para se analisar a sociedade, a cidadania, o presente, a escrita, a leitura e a vida, caso estes temas ainda forem abordados no nosso sistema de ensino. São conversas que normalmente oiço no dia-a-dia, no autocarro, no mercado, chegam até mim e depois ganham a forma de texto literário”, revela.
“Mulheres com mais visibilidade”
Curiosamente, foi por não haver o hábito em Cabo Verde das mulheres serem reconhecidas como escritoras que Dina Salústio atrasou a sua primeira publicação até 1994, altura em que, já com 53 anos, publicou “Mornas eram as Noites”. Ao lançar o seu primeiro romance “A Louca de Serrano”, em 1998, passou a ser tida como uma das primeiras escritoras cabo-verdianas a enfrentar esse género literário. Com essa obra a autora deu continuidade a uma trajectória literária que tem a mulher como narradora e fio condutor de histórias, que são críticas e denúncias de comportamentos observados na sociedade cabo-verdiana.
Dina Salústio confessa que só ouviu falar de mulheres escritoras depois da independência, embora nessa altura já soubesse que havia Ivone [Aida Ramos] que escrevia, Orlanda Amarilis, Maria Margarida Mascarenhas, entre outras poucas que só depois de 1975 é que publicaram.
“A minha geração e as que se seguem na literatura, tivemos o mérito de incluir a mulher na literatura cabo-verdiana. Até à independência praticamente não havia mulheres na literatura cabo-verdiana, havia apenas referências de uma ou outra, nada de relevante ou de destaque. Hoje a situação é bem diferente e creio que todos saímos a ganhar”.
Muito a dar
Dina Salústio, que diz ter tido uma vida um bocado complicada nestes últimos 15 anos, avalia agora que a sua vida de escritora tem corrido bem e que “ainda tem muito a dar à literatura cabo-verdiana”. Recentemente, foi a Macau a convite do ministro da Cultura para representar Cabo Verde no Festival Literário Rota das Letras, onde pôde constatar que a sua obra é “bastante apreciada”.
Contudo, para a escritora, os muitos jovens que têm vindo a publicar e a aparecer estão a dar “outra cor” à literatura cabo-verdiana. “Quando é um jovem de 20 ou 30 anos a escrever a força é outra e o olhar também, independentemente da qualidade que esse jovem poderá significar”.
Dina Salústio tem na gaveta um romance, já pronto mas ainda sem nome, que vai ser publicado, em princípio, no próximo mês de Dezembro.
Para além de “Mornas eram as Noites” (1994), “A Louca de Serrano” (1998) e “Filhos de Deus” que agora é lançado, Dina Salústio é autora também de dois livros infanto-juvenis, “A estrelinha tlim tlim”, com ilustrações de Júlio Resende, de 1998 e “Que os olhos não veem”, em co-autoria com Marilene Pereira, em 2002. Publicou o estudo “Violência Contra as Mulheres”, de 2001, o romance “Filhas do Vento”, em 2009. É autora de uma antologia dos poetas cabo-verdianos, publicada em Lisboa, em 1998, e de outra da poesia africana de língua portuguesa do século XX, editada no Rio de Janeiro, em 1999.
ACN
 

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