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Opinião

Olhar 15

Natacha Magalhães

E março começa. Mês da vida: da água e da Mulher. A agua, por cá, escasseia. Até voltar a chover temos que ter uma outra atitude para com o precioso liquido. Sobre a Mulher, empresto a minha voz à indignação da Primeira Dama. “Não me ofereçam flores!” Esses e outros pontos no nosso Olhar Quinzenal.

1. Comecemos com aquilo que é de mais essencial. A água. Cabo Verde atravessa uma crise hídrica sem precedentes. Não se trata de uma situação ilusória. É real. Trocando por miúdos, a água escasseia no país. O alerta foi dado pelo Conselho de Administração da Agência Nacional de Agua e Saneamento que assegura que a prioridade é garantir agua para o consumo humano, seguido da agricultura e abeberamento do gado. Proibidas ficam práticas demandem muita água. Para melhor entendimento da situação de crise bastará dizer que as reservas de água (barragens, nascentes, poços e outras) se encontram muito próximas do seu limite de exploração e que o volume de água das barragens está muito abaixo dos valores habituais. O que obriga a que todos, sem exceção, consumidores, agricultores e criadores e autarquias, tenhamos que nos adaptar, saber viver com o que temos, sermos mais eficientes na gestão da agua e consumirmos menos ou melhor.

2. E chega o março. Da vida, porque da Água e da Mulher. Para esta ultima, choverão poemas e flores, declarações infladas de reconhecimento às capacidades e as competências das nossas cabo-verdianas, vindas de todos os quadrantes e figuras. Entretanto, junto a minha voz à da primeira dama. Vergonha! Ultraje! Não há como classificar de outra forma a medida do governo em indicar TRÊS HOMENS para o posto de Comissário para a área dos RECURSOS HUMANOS da CEDEAO. Qual é o diferencial ou a especialidade do currimulum destes ilustres que impediu que se encontrasse semelhantes quesitos em mulheres deste país, com provas bastas vezes dadas em todas as áreas? Que paridade é essa que se pugna – brevemente será levada ao Parlamento a lei – , se na hora de escolher pessoas para preencher cargos de elevada responsabilidade e prestigio continua a imperar o “clube do bolinha”? que mais terão as mulheres desse pais que fazer para provar que são merecedoras, por mérito próprio, de preencherem semelhantes cargos? Enquanto isso, vamos lá! Continuem a brincar que são pelo empoderamento da mulher. Continuem a fingir que reconhecem nas mulheres cabo-verdianas capacidades e mérito. E enquanto isso continuem a abanar com a cabeça, em sinal de assentimento, quando um Zapateiro vir a público dizer que países mais avançados serão aqueles onde as mulheres ocupem o lugar em igualdade em todos os campos.

3. Pois. José Luiz Zapatero veio a Cabo Verde com a promoção dos direitos laborais das trabalhadoras domésticas na agenda. O politico defende que esta(e)s profissionais devem receber salário mínimo, segurança social, subsidio de baixa médica, férias e devem ter jornada limitada, fins de semana e subsídio de desemprego; classificou o progresso nos direitos das mulheres como a mais importante correção da História. Porem, não sabia Zapateiro, quando instou o país a liderar “essa revolução” no continente africano nem quando apelou os homens cabo-verdianos a se juntarem ao feminismo, que a igualdade de oportunidades entre mulheres e homens, nesse país, é ainda uma “revolução” que segue a passo de caracol.

4. A saga do “Vicente” chega ao fim. Pelo menos assim o parece. Três anos depois da trágica ocorrência, finalmente se jaz justiça aos herdeiros das vítimas do navio que naufragou a 8 de janeiro de 2015 na ilha do Fogo, a quatro milhas do porto de Vale dos Cavaleiros, e do qual resultou três mortos e 12 desaparecidos. Já se encontra publicada a lista oficial dos herdeiros hábeis das 15 vítimas mortais que já podem receber a pensão de sobrevivência. O governo anuncia que o processo do pagamento da pensão já foi iniciado e que será efetuado mensalmente pelo Orçamento de Estado.

5. Surto de gripe. O país vem enfrentando um surto de gripe, para muitos, mais resistente e com sintomas mais consistentes que uma gripe normal. Vários casos e também de pneumonia, acontecem com maior incidência as ilhas de Santo Antão e São Vicente. Dessa vez, o Ministério da Saúde fez-se pronto e tenta perceber que estirpe viral é essa que tantas pessoas tem levado aos centros hospitalares. A Diretora Nacional de Saúde, anuncia que o vírus está sendo investigado pelo MS, com o apoio da OMS. Todavia, descarta qualquer ligação entre os dois óbitos ocorridos em São Vicente à gripe. Medida louvável e atempada. Não podemos ad eternum continuar a atribuir estes surtos a simples “viroses”.

6. Nós e a CPLP. Vinte e dois anos após a sua criação e pela primeira vez Cabo Verde acolhe (em julho), a XII Cimeira da CPLP e deve nessa altura assumir a presidência deste órgão. De entra outras questões, a situação politica na Guine Bissau será certamente um dos pontos da agenda. Não passou despercebida as recentes declarações da secretária-executiva da CPLP à Agencia Lusa. Maria do Carmo Silveira fala do “silêncio assustador” sobre a crise política na Guiné-Bissau por parte da CPLP e pede criação de um mecanismo de concertação rápida para permitir respostas céleres da organização sobre crises internas nos Estados-membros.

7. Conta-se em poucas palavras. Um doente que devia ser evacuado de urgência da Boa Vista para o Sal não conseguiu lugar para embarcar na Binter CV. A solução foi transportar o doente, em estado grave, através de… um yate.  Joe Luis santos, presidente da edilidade boavistense mostrou-se indinado perante aquilo que classifica como “um ato desumano” da companhia área que, segundo o próprio, mostrou-se indisponível em encontrar uma solução. Há algumas questões que se levantam: fica ou não a Binter CV, a companhia que opera entre ilhas em regime de monopólio, obrigada a prestar esse tipo de serviço, sem reservas de ordem alguma? Quando é que finalmente se concretizará o processo de aquisição do avião “Dornier” para o transporte de evacuados, anunciado em dezembro último pelo primeiro ministro?

8. Inquietante. É o que se pode dizer das declarações manifestadas pelo juiz Manuel Cabral, da Comarca de Santa Cruz. Numa matéria dada à estampa, na edição anterior deste semanário, aquele magistrado diz-se ameaçado de morte por ter proferido uma sentença de 16 anos a um arguido (que assassinou a companheira), afirma que “a justiça em Santa Cruz é nula” e que “tudo concorre para o crime”, acrescentando que a situação é grave o que o leva a temer pela sua própria vida. Não menos grave é o facto daquele magistrado afirmar ao jornal que sofreu pressão dos colegas “para não proferir a sentença dentro do prazo de modo a permitir que o arguido saísse em liberdade por excesso de prisão preventiva”. Entretanto, o Conselho Superior da Magistratura Judicial já mandou instaurar um inquérito àquela Comarca.

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