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Economia

Hub do Sal sem força… ainda: voos para Brasil e Europa com fraca adesão

Desde que o hub do Sal entrou em funcionamento, em Fevereiro, que os voos da TACV para Fortaleza e Paris estão praticamente às moscas. Em contrapartida a TAP reforçou os voos para São Vicente e Praia, tirando partido do “vazio” deixado pela concorrente cabo-verdiana. A Air Marroc, através do seu hub em Casablanca, entrou também na corrida para o Brasil. Viajar, a partir do Sal, tornou-se desconfortável, dizem os operadores de Santiago e São Vicente.
Embora dois meses de operações seja pouco tempo para balanços, o certo é que, a avaliar pelos dados recolhidos pelo A NAÇÃO, a implementação do hub no Sal não tem sido fácil. As vendas Sal-Brasil têm sido fracas, assim como a performance dos voos Sal-Lisboa e Sal–Paris, que tem sido “fraquinha”, segundo as nossas fontes.
Se antes era só a TAP a fazer concorrência à TACV, sobretudo para a Europa, e agora também para os Estados Unidos, hoje em dia a SATA (Açores) e, principalmente, a Royal Air Marroc já levam muitos passageiros (turistas, mas também emigrantes cabo-verdianos) para Lisboa, Amsterdão, Paris, Boston e Fortaleza.
Os contratempos já sobejamente conhecidos da TACV e a mudança de estratégia da companhia, nomeadamente a criação do hub, que levou à centralização dos voos internacionais na ilha do Sal. Com isso deixou um “vazio” e um leque de oportunidades para as outras companhias no mercado de Santiago, mas também em São Vicente.
TAP aumenta voos
Prova disso é que a TAP vai aumentar o número de voos entre Lisboa e São Vicente e Lisboa e Praia. Isto embora, em declarações à agência Lusa, o delegado dessa companhia em Cabo Verde, João Inglês, tenha dito que o aumento do número de voos para São Vicente não tem nada a ver com o fim das ligações internacionais directas da TACV. “Tem a ver, sim, com a forma como a TAP encara Cabo Verde, como uma oportunidade de negócio. A nossa orientação para o país não tem nada a ver com a política seja de quem for”, garantiu.
No total a TAP vai passar a ter seis voos semanais entre Lisboa e São Vicente, entre 22 de Julho e 2 de Setembro.
Na Praia a companhia passa a operar com 11 voos semanais, entre 9 de Junho e 28 de Setembro. Mesmo com preços elevados, a TAP tem sido crucial para o escoamento de passageiros entre Praia e Lisboa.
“A TAP neste momento está a trabalhar muito bem no mercado Cabo Verde e tem criado condições por forma a que consigam fazer as ligações que querem, quer para a Europa, quer para os Estados Unidos. Com a TAP não há problemas. Tem vendido muito bem. Aliás, senão vendêssemos TAP, já teríamos fechado as portas”, reconheceu ao A NAÇÃO Conceição Monteiro da agência Executive Tour, na cidade da Praia.
A empresária não tem dúvidas que o “vazio” que a TACV deixou no mercado da Praia (Santiago) reflectiu, “e muito”, na procura dos voos da TAP. “Quando se deixa um vazio, as pessoas vão para a alternativa, e a alternativa foi as ligações com a TAP”.
Mercado regional em aberto
No mercado regional, outro “vazio” deixado pela TACV, quem tem dado as cartas é a senegalesa Transair, que faz Praia-Dakar directo, com quatro voos semanais. Segundo informações por nós apuradas, esses voos têm estado “lotados”, ficando mesmo sem capacidade de carga para dar escoamento às compras das rabidantes.
Também aqui as passagens subiram de preço. Principalmente para quem vem de outras ilhas que não Santiago, pois é-se obrigado a comprar dois bilhetes: Transair e Binter. Em expansão, a Royal Air Marroc tem aproveitado também para ligar Praia a Bissau, directo, e Praia-Dacar, via Casablanca.
Neste momento também a Binter Cabo Verde, companhia que desde Agosto de 2017 passou a operar em exclusividade os voos inter-ilhas, está na expectativa de entrar no mercado regional. Segundo informações avançadas por Raul Zapico, director-geral da empresa, a Binter vai avançar com os voos de demonstração (sem passageiros) no próximo dia 4 de Abril para Dacar. “Contamos começar a voar com passageiros em finais de Maio”.
Voos para o Brasil às moscas
Entretanto, no reconfigurar do mercado cabo-verdiano, imposto pela mudança de estratégia da TACV ao sedear a sua base no Sal, os voos para o Brasil diminuíram consideravelmente. Segundo uma fonte da companhia, “quando era via Praia, os voos estavam muito melhores”.
Hoje, o nosso interlocutor aponta para uma média de 45 passageiros, por voo, para Recife e Fortaleza, isto num avião de 180 lugares. O voo de domingo, do passado dia 18 de Março, é prova disso: seguiu do Sal para a Fortaleza com 19 passageiros e regressou com 16, sendo que a maioria eram turistas europeus. Dias antes, por falta de passageiros, a TACV vira-se obrigado a suspender o voo de quinta-feira, juntando os passageiros para o citado voo do dia 18. Mesmo assim, foram 19 a ir e 16 a voltar num universo de 180 lugares.
Reagindo a esse sinal, A NAÇÃO sabe que a TACV promoveu há duas semanas uma “road trip”, uma  acção de charme e promoção de Cabo Verde, junto de agências de viagens brasileiras. Além de conhecerem melhor o destino cabo-verdiano, os operadores brasileiros reuniram-se também com as agências de viagens que vendem pacotes turísticos. Isto tendo ainda em conta que a TACV já fechou um acordo para passar a três frequências semanais para a Salvador (Bahia). A ideia é facilitar o intercâmbio desse Estado com Cabo Verde e as conexões com mercados emissores da Europa, tal como acontece com o Ceará (Fortaleza) e Pernambuco (Recife).
Por agora, conforme algumas agências de viagens auscultadas pelo A NAÇÃO, a venda de passagens de Cabo Verde para o Brasil tem sido “muito fraca”. “Depois do hub ter começado não temos tido vendas para Fortaleza, por exemplo. Tivemos um caso, ou outro, de estudantes. Mas esse destino não tem sido vendido como a gente gostaria. Antigamente vendíamos mais porque fazíamos pacotes, vendíamos para quem ia fazer negócios e também para estudantes”, atesta Conceição Monteiro, da Executive Tour.
Neste momento, ao que conseguimos saber, as rabidantes que se iam abastecer no Brasil, agora, preferem outros destinos. “Fazem mais Paris, Estados Unidos. Elas deixaram o Brasil por várias razões: a flutuação do dólar, porque o Brasil funciona com dólares, e depois porque preferem ir para um local onde possam trazer a bagagem como desejam”.
Conceição Monteiro não tem dúvidas que “de Agosto para cá”, as vendas reduziram consideravelmente. “Para não dizer drasticamente! E não somos só nós. Toda a gente fala da mesma coisa. Eu vejo as vendas do mesmo período do ano de 2016 e de 2017, e as vendas da TACV caíram. Vai-se vendendo outras companhias aéreas. Temos outras alternativas e temos que dar solução aos nossos clientes”, argumenta.
O mesmo cenário de venda “fraca” para o Brasil é traçado pela Morabitur, nos Espargos, ilha do Sal. “A TACV está com pouca procura para o Brasil mas também são mais pessoas da Praia e São Vicente que costumavam procurar esse destino para fazer negócios”, diz Antónia Sança.
Também Magali Brito, da Atlantur, em São Vicente, se queixa de que os voos para o Brasil andam com “pouca procura”. “As pessoas informam-se dos preços, mas a venda de bilhetes não é significativa”, esclarece.
O mesmo sentimento é partilhado pela Girassol Tours. Segundo fonte desta agência da cidade da Praia, entre Janeiro e Março, a procura de voos para o Brasil “diminuiu bastante”, sobretudo desde que “mudaram o sistema de malas”. “Só dá direito a uma mala e a mala suplementar tem de se comprar à parte”.
Verão expectante
Apesar disso, Maria Teresa Graça, da Agência Fly (São Vicente), e que é também presidente da Associação das Agências de Viagens e Turismo (AAVT) de Cabo Verde, mostra-se expectante com o mercado Brasil, a longo prazo. “No caso do Brasil, esta não é uma época em que se venda muito, porque não é época alta. Fortaleza tem mais procura que Recife, sobretudo para férias, em família, geralmente entre Junho e Setembro. Neste momento já temos algumas reservas para o Verão. E há pessoas que ligam a pedir informações sobre preços”, revelou ao A NAÇÃO.
Contudo, no caso presente, Maria Teresa da Graça não esconde que a sua agência apenas vendeu “um ou outro bilhete” entre Janeiro e Março, para Fortaleza. “O preço da hotelaria no Brasil aumentou significativamente, comparativamente há uns anos atrás. Hoje em dia, um pacote de sete noites, em quarto duplo, num hotel de quatro estrelas, pode chegar a 100 contos, por pessoa”, clarifica.
Gisela Coelho
A reportagem pode ser lida na integra na edição impressa nº552 do Jornal A NAÇÃO.

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