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Opinião

Justiça na distribuição da riqueza

José Valdemiro Lopes
Confrontados, com a rápida urbanização e surgimento de novas oportunidades, na Praia, Mindelo e nas ilhas do Sal e da Boavista, os cabo-verdianos, sofreram e sofrem a erosão das ligações familiares e comunitárias tradicionais, uns por questões de sobrevivência, outros por motivo de integração social profissional, no mercado de trabalho, dificilmente realizável nas suas ilhas e comunidades originais, neste pais insular, com um cunho socio económico extremamente desigual entre ilhas e  elevada taxada de desemprego jovem, toda uma situação resultante da inexistência desde 1975, á presente data de uma politica de desenvolvimento social coeso, que demais criou elites politico e económico, que souberam tirar proveito do sistema em detrimento da maioria dos cidadãos e da classe média, apresentando de forma privilegiada sinais de enriquecimento rápido, caracterizando o sistema vigente de injustiça social e desigualdades entre ilhas e regiões, entre centro e periferia, que criou e sustenta a realidade de termos  ainda, um quinto da população das ilhas na pobreza,  em situação permanente de desenrasco e fora da proteção social com acesso ineficiente  ao ensino, serviços de saúde e pessoas sem  acesso a serviços de utilidade publica de primeira necessidade, como água, eletricidade e sem  possuir, uma habitação condigna. É a triste realidade de injustiça social e só não a vê,  quem não quer… vivemos num pais discursivo e de promessas, de costas voltadas, para a maioria dos cidadãos nas nove ilhas habitadas…
Viver feliz não significa tornar-se rico, o ganho social é possível e realizável, países pequenos, praticamente sem recursos, conseguiram e vou citar como exemplo, apenas dois casos: primeiro, o reino do Botão, encravado no himalaia, com Thimbu, como cidade capital, tem menos de 700.000 habitantes, portanto em termos populacional é e semelhante a Cabo Verde, o pais é conhecido no mundo inteiro, não pelo seu PIB (produto interno bruto), mas pelo seu FNB (felicidade nacional bruto), uma democracia orientada e voltada  para fazer chegar, o bem estar e a felicidade aos seus cidadãos e não baseada, na obtenção de ganhos financeiros e enriquecimento… este pais montanhoso, situado perto do teto do mundo, o Evereste, é de orientação religiosa budista e  instalou  “nove bases”, para “medir” o FNB,  dentre os quais, figuram: a saúde; o ensino; o modelo de governação; o bem estar físico da pessoas…, contrastando com o caso Cabo Verde que  vive com um quarto da sua população na pobreza, o acesso aos serviços de saúde e ao ensino, são limitados, nas ilhas e regiões periféricos, mais particularmente nas zonas rurais. É verdade ou não que neste pais arquipélago de nove ilhas habitadas, os serviços mais adequados em matéria de saúde publica estão ou não, concentrados nos dois hospitais centrais, (Praia e Mindelo),? Na área de ensino, Cabo Verde tem  dez  instituições de ensino  universitário  e estão todos maioritariamente instalados em São Vicente e Santiago !
Segundo, a Maurícia, caso único e exemplar em áfrica é pais de democracia, bem sucedida, com 1,3 milhões de habitantes, detentora da cana-de-açúcar, como único recurso natural, tem varias etnias, conseguiu diversificar a sua economia e apostou no desenvolvimento turístico, atraiu o investimento externo e tem instalado 23 bancos de negócios e de investimentos, (os nossos são de depósitos) maioritariamente estrangeiros, o pais pratica, uma politica social de saúde e ensino grátis  e  é um verdadeiro ponto de transição entre a áfrica e a ásia.
O caso Cabo Verde, o “modelo de desenvolvimento”, ficou prisioneiro da agenda partidária e do pseudo intelectualismo politico partidário, falhando, devido a vários factores: um centralismo obsoleto e absurdo; uma administração publica partidarizada, muita burocrata, com indícios de corrupção; má gestão de fundos públicos; mais de 40% das actividades económicas, continuam ancoradas no informal, ficando os operadores sem proteção social nem participação fiscal, mas fazendo sobreviver milhares de famílias; problema e calvário grave para as empresas,  o acesso a investimentos; abertura a negócios fraca; um tecido empresarial fraco e  submetido a um regime fiscal penalizador;  mão de obra  pouca qualificada;  produto final  pouco diversificado e na maioria dos casos de baixa qualidade e de pouco valor acrescentado (salvo raras exceções); carência em quadros técnicos;  caso endémico, ainda por resolver, o problema de circulação de bens e pessoas entre as ilhas; energia, água e serviços de comunicação, caros e deficientes mesmo para o serviço domestico; um estado em competição com o seu sector privado, omnipresente nas chamadas empresas publicas, onde muitas vezes as decisões aparentemente económicas mal conseguem dissimular, o que deveria ser, decisão de gestão de decisão politica…; baixo poder de compra da população e desemprego jovem muito elevado!
Dotar as ilhas de barragens, estradas, mais água potável e energia, são boas decisões, a infra estruturação, é útil e  imperativo, ao desenvolvimento, o problema vem do modelo de financiamento, utilizado sustentado exclusivamente em empréstimos de divisas, aumentando a divida soberana, mas é verdade que não temos poupança interna, isto é a capacidade económica interna para suportar os custos dos projectos, a ausência  de politica económica adequada a nossa realidade, não nos permitiu fazer sair a maioria da população da situação de pobreza… os decisores poderiam  ser mais prudentes e criteriosos, evitando,  “elefantes brancos” e endividamento excessivo …, Cabo Verde tem futuro sim senhor e os cidadãos devem acreditar e construir já hoje um amanhã  mais feliz para toda a gente das ilhas, apostando na juventude cabo-verdiana, a nação deve efectuar a sua integração na sua zona económica geoestratégica, a nossa sub-região africana e na comunidade económica dos países de áfrica de oeste CDEAO, implantar um regime fiscal mais flexível e  criar condições estratégicas de negócios para atrair o investimento externo directo, associando a diáspora para se poder fazer crescer a economia, criar riqueza e baixar  o desemprego e sobretudo, investir no nosso recurso, o Mar, em todas as suas vertentes económicas e energéticas, e instalar finalmente uma economia social ao serviço do povo nas nove ilhas habitadas.

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