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Opinião

A noite longa de Fajã

 Luís Carvalho
As previsões sobre a possibilidade de o furacão Fred atingir Cabo Verde, o primiero de que há registo na história do arquipélao, confirmaram-se. Os meus parabéns aos nossos serviços de meteorologia que, mais uma vez, mostraram que o país está bem servido. Foi graças a um trabalho de monitorização bem feito do percurso do “Fred” que permitiu ao país prevenir-se quanto pôde. O Instituto Nacional de Metereologia (INMG) havia igualmente mostrado serviço quando da última erupção vulcânica na ilha do Fogo. Com os ponteiros do relógio a marcar pouco mais das três horas e 30 minutos da tarde, como tinha previsto pelo INMG, Fajã, um dos mais lindos vales de São Nicolau, começou a sentir o cheiro do “Fred”, este que já é denominado como sendo um grande amigo de Cabo Verde pois, no cômputo geral, provocou poucos estragos e em termos de benefícios trouxe muita chuva às terras resequidas de um país que estava a preparar-se para um cenário de mais um ano de seca consecutivo. No ano transacto, praticamente, não choveu. Como consequência da seca, em algumas localidades de Santo Antão e Santiago o gado começou a morrer à fome. A situação era mesmo de angústia. Não havia razões para menos. Ninguém de bom senso consegueria ficar indiferente perante animais cadavéricos que só nos faziam lembrar épocas de grandes crises que levaram milhares de concidadãos nossos a emigrar para as duras roças de São Tomé e Príncipe. Enretanto, o “Fred”, com as chuvas que trouxe, renovou a nossa esperança, sobretudo a dos briosos homens e mulheres do campo. Choveu bastante nas duas maiores ilhas agrícolas do arquipélago: Santiago e Santo Antão. As suas barragens receberam muita água, tendo uma delas, a da Faveta, no município de São Salvador do Mundo, transbordo.
No entanto, a barragem de Banca Furada, em São Nicolau, a ilha que mais terá sofrido os efeitos negativos do “Fred”, ainda não recebeu uma única gota de água. Caso tivesse acontecido, teria deixado muito mais satisfeitos os homens que vivem do cultivo da terra. Assim, não ficariam apenas pelo susto que ganharam pela passagem do “Fred”. Na verdade, foi uma noite longa para todos quantos experimentaram o ruído infernal desse furacão que não poupou as casas nem os campos agrícolas.
No dia seguinte à passagem do “Fred”, o celeiro de São Nicolau era um vale desolador. Todos os agricultores sofreram os efeitos devastadores deste fenómeno da natureza, que parece ter assentado os seus arraias em cima da ilha de Chiquinho. As pessoas chegáram a temer o pior. Ainda está bem viva nas suas memórias a queda, em 2009, de fortes chuvas que provocaram grandes inundações em toda a ilha, com destaque para a cidade da Ribeira Brava.
Por ocasião do dia 8 de Setembro, data em que os paroquianos de Nossa Senhora da Lapa comemoram a sua santa padoreiro, o padre José Constantina, um filho da terra, como se sói dizer, durante a celebração, lembrou os seis adolescentes que morreram afogados na praia de Prainha, bem como as pessoas afectadas pelo furacão Fred.

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