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Cultura

Um ano depois: Afroreggae retira-se e multiplicadores dão continuidade ao projecto

O AfroReggae, grupo cultural do Brasil, está em Cabo Verde para a quarta e última etapa das oficinas de formação de multiplicadores. Esta última missão passa por passar a limpo todo o trabalho implementado de há um ano a esta parte, limar as últimas arestas antes de sair para deixar que as associações e os multiplicadores dêem seguimento ao projecto. O sentimento geral é de missão cumprida.
Antes da partida, a equipa do AfroReggae, que há um ano vem trabalhando com as três comunidades da cidade da Praia, já começa a sentir a saudade a apertar. A entrega total ao projecto dos jovens e crianças com quem os activistas brasileiros vêm trabalhando surpreendeu-os desde o primeiro instante que iniciaram os trabalhos.
Agora, “na hora di bai”, o AfroReggae faz as contas e o saldo é “um sentimento de missão cumprida”.
De lá para cá, muita coisa mudou e houve uma evolução “surpreendente”. Segundo Johayne Hildefonso, líder e director artístico do AfroReggae, as acções que iniciaram em Outubro do ano passado deram “bons frutos” e agora é hora de os bairros com quem trabalharam caminharem com os próprios pés. “Já estamos vendo os resultados das oficinas que ministramos, já existe um grupo muito expressivo a desenvolver as actividades nas três zonas”, afirma.
Bruna Camargos, coordenadora do projeto, diz que desde o início trabalhou-se com a meta de um ano. “Durante um ano formamos pessoas para que estivessem à frente do projecto quando formos embora. Essa é a nossa última missão. Saímos oficialmente, digo oficialmente, porque queremos voltar, aliás, estamos a estudar essa proposta, estamos tentando fazer outros projectos para continuar a acompanhar os trabalhos desenvolvidos”.
RESULTADOS
Segundo Johayne, Tira Chapéu e Safende são os bairros que se sobressaíram mais durante todo o ano de implementação do projecto. “Mas Achada Grande Frente tem feito um bom trabalho com palhaços”, ressalva Johayne.
Com o objectivo de conseguirem seis multiplicadores de cada um dos três bairros com que trabalham, AfroReggae conseguiu 70 no total. “A ideia era ter dois jovens de cada modalidade (grafitti, percussão e circo) em cada um dos bairros, mas sentimos que ia ser difícil escolher. Então, perguntámos quem queria ser multiplicador e, para nossa surpresa, um grupo enorme se disponibilizou. Deixamos assim porque pensámos que quando regressássemos o número iria diminuir. Surpreendentemente, na segunda missão, havia 70 multiplicadores. Quem saiu foi porque precisou ir trabalhar ou voltou a estudar”, revela satisfeito Johayne.
Para Bruna Camargos, que trabalha com o risco social e familiar, os resultados são óptimos na medida em que diminuiu ou atenua o risco social. “Ter agora um jovem que saiu das oficinas porque conseguiu trabalho é a glória, porque conseguimos atingir um dos nossos objectivos. Ter um menino que não estudava antes e agora estuda, está dentro dos nossos objectivos, e não importa se deixou de fazer a oficina”, salienta Camargos, acrescentando que os resultados sociais das intervenções podem ser difíceis e conflituosos “porque falamos de um processo de mudança social completo, inclusão social, que temos conseguido bom resultado”.
PROCESSO DE CONTINUIDADE
Um ano após o início do projecto, a equipa do AfroReggae vai retirar-se e deixar que os multiplicadores continuem a colocar em prática tudo o que aprenderam. Como uma mãe que agora deve deixar o filho tomar as rédeas da sua vida, os nove integrantes do grupo deixam, já no próximo mês, os multiplicadores cabo-verdianos sozinhos para darem continuidade aos trabalhos que é a utilização da arte para a gestão social.
Os multiplicadores foram formados em oficina de graffiti, percussão, e circo. Já nos trabalhos na comunidade, as duas técnicas, Ana e Bruna, dizem que trabalham com técnicos do Ministério da Juventude, Emprego e Desenvolvimento de Recursos Humanos (MJEDRH), “compartilhando a nossa metodologia do risco social/familiar, o mesmo que usamos no Brasil”.
Para trabalhar esse aspecto, foi aplicado, por duas vezes, o IPM (Índice de Pobreza Multi-Dimensional). A primeira vez no início do projecto (2013) e a outra agora no final. “É um questionário para fazer o levantamento das privações das famílias que dá subsídio para trabalharmos com acompanhamento de risco social/familiar”, explica Camargos.
“Para além da oficina, preocupamos com as famílias e as privações que estão encontrando no dia-a-dia, na casa, através da metodologia de risco social/familiar que também utilizamos no Brasil”, diz Ana Silva, coordenadora do projecto Risco Social e Familiar. “A questão de escolaridades, emprego dificulta de alguma forma e desencadeia outras privações, e temos tratado disso de alguma forma, ou através dos órgãos públicos/sociais ou parcerias privadas, sempre trabalhando em rede tanto na área cultural como social”, salienta.

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